quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quero aqui fazer uma homenagem

Piedade - Michelangelo Capresi Simone


Quero aqui fazer uma homenagem.
Uma homenagem às boas coisas,
Àquelas com que a vida nos regala.
Não sei exatamente quais são,
Mas as sei boas, só as sei belas.
Não sou somente o poeta do infortúnio,
Aquele que só canta o mau fado.
Sou também aquele dos amores,
Dos muitos e infinitos encantamentos.
Às vezes rimo e metrifico.
De outras... De outras, não.
A minha poesia requer liberdade e não servidão.
É canção controversa, mas sincera.
Se estiver sóbrio — e quem o pode inspirado? —
Falo de muitas coisas, mas sempre sinceramente.
Não sou o infeliz de muitos versos,
Porém incorporo a aflição do mundo.
Sou poeta! Sou louco, vagabundo...
Rei sem reino, criatura que escorrega na areia do tempo,
Um sem alma, mas que possui todas as almas do mundo.
Uma vez perguntaram a mim: por que fazem as crianças,
Com tanta naturalidade, xixi na rua?
Porque para eles o pinto é para fazer xixi.
Não há obscenidade no pênis, na vagina e no ânus.
Isso é coisa de gente que não se acostumou a viver
E, principalmente, de gente que se esqueceu
Que nasceu nu.
Mas a questão não é o caralho, a boceta, ou o cu...
É a natureza da maldade, da falta de verdade,
Da hipocrisia, pois tudo isso temos uns e outros não.
Depende do sexo. Perplexo fico, que desde Adão não percebamos.
Contudo, não quero falar sobre isso...
Aliás, do que falava?
Falava, não... Poetizava?
Só aviso aos mais pudicos que sou poeta
E se assim sou, não minto. No máximo finjo,
Mas até quando finjo, digo a verdade. Ao menos a minha,
Ou aquela que expresso em meus devaneios.
Assim, se minhas palavras agridem, abandona a minha poesia.
É melhor, é mais são.
Não escrevo para quem tem limites, para os ditos probos.
O que escrevo é para criaturas infernais.
Para Prometeu que roubou o fogo dos céus,
Para os que não têm limites no erro,
Mas que limites também não tem no amor, na compaixão,
Enfim, em toda a forma de manifestar o que há de superior em si.
Minha linguagem é imprópria, agressiva, acutila?
Não leia então. Nada te obriga. Contudo, não me venha criticar.
Não sou a palmatória do mundo, sou poeta.
Tenho dito coisas que outros no passado quiseram,
Mas não ousaram dizer.
Não porque fossem menores do que eu,
Mas não tiveram a coragem.
Eu a tenho? Não. Mais ainda assim, digo.
E digo — tomem-me por prepotente —
Que o mundo foi criado para a felicidade,
Para a embriaguez do prazer.
Porém veio alguém e disse:
— E se não for assim?
Bastardo. Filho do Inferno!
Não vês que até tu és a perfeição?
Eis lançado o paradigma.
Como algo assim, tão deturpado pode ser perfeito?
Nada é perfeito, creem uns...
Tudo... Tudo é perfeito.
Para o poeta tudo é motivo de beleza,
Até a própria morte.
Quem não morreu ainda, morrerá.
É certo.
Que mal há nisso? É a vida?
Não ensinaram na escola que todo ser vivo
Nasce, cresce, reproduz e morre?
Bem, nem todos crescem ou reproduzem,
Entretanto, morrem... Todos, sem exceção até agora.
E a única certeza que deixa a morte é a saudade.
Quem nunca sentiu saudade de alguém que partiu?
Até o algoz sente saudade do objeto da sua imolação.
Nada há de perverso nisso.
A vida é que é perversa segundo a visão que temos dela.
A vida não é porta, não é janela...
A vida é cárcere.
E o que fazer com isso?
Viver... Simplesmente viver.
Tentar tira do bagaço o sumo que resta e desfrutar.
A maior liberdade é a desconstrução de si mesmo.
Visionário? Não. Poeta.
Só o poeta fala contigo da dor e tu gozas.
— Teus versos são tristes, mas que belos!
Onde há beleza na tristeza?
O poeta sabe. Fala. Declama. Porém não desvenda seus segredos.
O poeta é um corruptor de almas
Que adentra no interior de todas as outras e estila seu veneno.
Liberdade. Sim, liberdade...
“Pois conhecereis a verdade e ela vos libertará”
Em forma de poesia.
Liberta-te desta tua vida tão vazia!
E serás feliz,
Ou não...
Não importa,
O que importa é viver e só isso.
Nem meus versos... Importam.

S. Quimas


2 comentários:

JOSÉ ROSÁRIO disse...

Muito belo, Quimas. Um desabafo e também um estímulo.

S. Quimas disse...

Obrigado, José Rosário.
Luz e paz.