quinta-feira, 5 de junho de 2014

Não existe grandeza nenhuma em minha poesia

Retrato do poeta Oscar Levertin - Carl Larsson


Não existe grandeza nenhuma em minha poesia,
Tudo não passa de um mero desfilar de versos.
Seria uma ignomínia alcunhar o que escrevo de belo. Não é.
A pretensa beleza se realiza tão somente
Pela cegueira dos olhos de quem lê meus versos,
Pois se de fato enxergasse,
Não tomaria tais absurdos por obra de arte,
Apenas os leria, como alguém que displicentemente
Passa os olhos nas manchetes de capa dos diários
Expostos em uma banca de jornal qualquer.

Pensei em ser muitas coisas,
Senhor de feitos extraordinários,
Mas só o que pude é ser motivo de chacota,
Uma obstinada coisa nenhuma.
Poeta? Poeta muito menos...
Para ser poeta,
Minhas palavras deveriam ser como que encantamentos,
Deveriam falar ao coração de quem as lesse
E causar todo o tipo de emoção sublime,
Mas minhas palavras só trazem o enfado e a indiferença.
Não sei por que insisto, deveria há muito ter abandonado
Essa empreitada inglória e me declarado incapaz.
Porém, insisto.
Ao menos haveria de se louvar em mim essa qualidade,
A de persistir na busca de uma realização.
Mas, nem isso.
Somente me arrasam, somente de mim desdenham.
E na rua, quando passo, entre cochichos, comentam:
—Vê. É aquele que não se cansa em trazer ao mundo
Frases sem sentido. Quisera sua pena emudecesse.
Pensam que não ouço. Finjo que não,
Pois se me mostrasse indignado,
Só agravaria o repúdio a que me submetem.
Então, viro as costas ao mundo,
E calçados da minha nefanda covardia,
Meus pés levam meu corpo a uma mesa de bar.
Lá, deixo nos muitos copos esvaziados
Todas as dores. A imensa dor que sinto
E todas as que sinto em minha poesia.

S. Quimas

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