quinta-feira, 26 de junho de 2014

Eu parto da ausência de mim mesmo

Touch and Go, to Laugh or No - Sophie Gengembre Anderson


Eu parto da ausência de mim mesmo,
De tudo o que não fui e de tudo o que sou
E sendo o que sou, e porque, jamais serei,
Mas em mim há todas as possibilidades.
Ah, que destino o do poeta! Nenhum.
Não há rota, nem carta desenhada que o revele.
O poeta vive e cada dia é uma incógnita.
Sabe-se lá a poesia, sabem-se lá os versos.
Tudo é bruma, toda possibilidade.
Não pertenço à minha encarnação,
A que pertenço? Não sei precisar.
Acho que à nada e a tudo ao mesmo tempo.
Muitas das minhas falas são desconexas,
Puro delírio, coisa da minha cabeça,
Mas que se preste atenção, verdades.
Digo o que jamais aprendi e além...
Porque a verdade não se aprende.
A verdade está marcada a fogo no coração.
E a razão, dirão os cientistas?
Ora, à ciência cabe explicar,
À poesia só cabe encantamento,
Cabe enlevar, a transcendência.
Poesia nenhuma jamais quis
Ser para o mundo ciência,
A poesia só se faz para ser sentimento.
Um único... Amor que se projeta
Além do pensamento,
Luz que se espraia, onde as trevas vingam,
Amores impossíveis e paixão,
Os mais loucos, alucinados, terminais.
A poesia é luz,
Luz que vem e nada mais.
Responda-me, tu que lê estes versos,
Donde a dor é motivo de beleza?
Mas, mesmo da maior tristeza o é.
A poesia é assim,
Um poço sem fim.

S. Quimas

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