segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Borboleta



À minha amiga poetisa, Raquel Ordones.

Quero nada,
Apenas o vento das asas,
Da borboleta que a flor beija.
Um rumor,
Som inaudível,
Mas que ouça
A canção de vida.
Quero que meus olhos vejam,
A cor, as asas.
Que a cegueira me consuma,
A surdez me destrua,
Mas antes, a borboleta.

sábado, 16 de agosto de 2014

Dane-se a filosofia

Cristo no Limbo - Hieronimus Bosch


Dane-se a filosofia. O mundo é tosco. Feliz o ignorante. O mundo é de todos os acomodados, dos iludidos.
O mundo não é para a luz, criaturas que rastejam nas sombras não a quer.
Conhecimento nenhum traz felicidade em um mundo que regurgita sua excrecência e acha que isso é normal. Normal, sim, num mundo de descabidos que pouco se importam em transcender às suas mesquinharias.
Pobre raça humana, tão perfeita com sua tecnologia.
Abissais que nunca saíram das cavernas de seu egoísmo, da vaidade de se considerarem maiores do que os quatorze bilhões de anos de um Universo que os precedeu e toda a construção que o circunda.
Melhor o vício do que a virtude planejada, aquela que é alimentada pela culpa e pelo condicionamento.
Quem já questionou em sua existência: é assim? Por quê?
Não. É muito mais cômodo citar os outros para apoiar a sua conivência com o ócio mental, do que ter o trabalho de refletir e tomar atitudes moldadas em suas próprias conclusões.
A sabedoria traz compreensão, mas não deixa a submissão encontrar caminho por entre as salas da alma. Saber o outro é algo, compactuar com sua inércia é outra coisa completamente diferente.
Na realidade tudo isso é mera perda de tempo, mas não escrevo para ninguém. Escrevo para mim, e às vezes nem mesmo. Escrevo por uma necessidade absurda de escrever absurdos. Minha alma fez pacto com o demônio da palavra. Que seja.

S. Quimas

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ninguém que muda alguma coisa é normal

Charles R. Knight - Cro-Magnons

Ninguém que muda alguma coisa é normal.
Normais são aqueles que se acomodam à situação.
Loucos são os que em seus sonhos viram outras possibilidades, enxergaram além e não se importaram em ser discriminados.
São os Fernão Capelo, os que viram o mundo de muito alto e mergulharam fundo na vida que lhes foi possível.
São a pior espécie de gente, tiraram os homens da fumaça das cavernas.

S. Quimas

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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Mulher dos Meus Sonhos

Arte: Istvan Sandorfi


A mulher mais sedutora de todas é aquela que se torna impossível de resistir, é a que tem um grande peito, onde bate um coração cheio de sentimentos superiores e é capaz de sentir emoção profunda ao ver uma mera florzinha nascida entre a grama, ou com o verso de uma poesia.
É aquela que seu rosto reflete a máxima beleza interior e seus lábios são doces, pois as palavras que diz, vêm de uma mente transbordante de sabedoria, não importante a sua formação acadêmica.
É aquela cujos quadris, cochas e órgãos sexuais são a reserva do mais fino amor e não, seu cartão de visita, convidando ao envolvimento superficial.
Essa mulher não é uma pudica, mas se reserva a ter personalidade bem ajustada e não se entregar à facilidade de exposição ridícula de si mesma. Reserva-se a não exposição de suas delícias, senão ao prazer dos afetos que construir.
Essa é a mulher que vi em meus sonhos e é dela que fala a minha poesia.

S. Quimas

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Longe do teu abraço, falsa amiga!



Longe do teu abraço, falsa amiga!
Tu que me provocas ao teu aconchego
E me ofereces uma pretensa eternidade,
Pois que és em verdade apenas túmulo,
Rigidez de corpos sem fôlego, inanimados,
Habitação de podridão e casa de ossarias,
Fim de toda e qualquer esperança,
Fado de tudo o que vive nesse mundo.

De ti nada eu quero,
A ti eu nada peço,
Senão a distância.
Não te temo,
Sei que no fim vencerás
Sobre a minha relutância,
Mas que seja quando
Todas as minhas forças
Forem por completo esgotadas.
Pelo momento,
Mantenha-te longe de mim.

A vida não é senhora tão fácil,
É uma amante de custo bem alto,
Mas seus gozos superam em muito
As dores e os pesares que causa.
Mesmos para as dores,
As que tenha, transformo em poesia.
Se uma amante me é negligente no prazer,
Tenho a outra,
Essa mais fiel e companheira.
Não se importa a quem me entrego,
Pois em toda minha entrega está presente.
É assim a vida de poeta,
Uma constância de versos,
Gozo sem fim
E até com as piores coisas,
Ainda assim, orgasmo, êxtase.

Permanece então, Morte,
Ainda que na espreita,
Mas que estejas distante,
Que eu não encare a tua face.
Sei-me mortal,
Assim é meu corpo,
Tenho a passagem certa,
Comprada em antecipado,
Mas ainda não é hora
Da minha nau, enfim partir.

S. Quimas

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Desincorpora, Luzia



Desincorpora, Luzia. Amanhã não é sexta.
O banheiro tá fedendo. Sei lá! Essa gente que teve aqui no fim de semana.
Presta atenção. Sou bom. Mas se tô bebum sento no vaso. Tampa, sempre fechada.
Chora não, Luzia! Não é culpa sua.
Só presta atenção, amanhã é quarta.

S. Quimas

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terça-feira, 12 de agosto de 2014

As Pessoas

Norman Rockwell - Fofoqueiros


Há dois tipos de pessoas que abomino: os que falam demais e os que muitíssimo pouco falam.
As primeiras porque enchem a paciência com sua verborragia e as últimas porque não sou telepata e não sou capaz de ler seus pensamentos. Graças a Deus!

S. Quimas

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Nada

Oswald Achenbach - Paisagem Montanhosa


Hoje não vou falar de amor,
Hoje não vou,
Hoje minha poesia está contaminada de vazios,
Meu coração não consegue sentir nada,
Nem dor, nem saudade,
Nem alegria, nem desejo,
Nada.
Hoje não vou falar de tristeza,
Não vou lamentar a vida
E nenhuma ausência.
Hoje não vou falar de nada,
Pois a minha poesia secou
Feito uma flor entre as páginas de um velho livro.
Hoje só vou me estirar
A um canto,
Talvez mesmo sente no chão,
E aí nesse lugar ficar imóvel
E não pensar em nada,
Apenas permanecer em silêncio.
E se pudesse nem respirar,
Não respirava.
Hoje não vou falar de nada,
Não vou viver nada,
Não vou sentir nada
E ser apenas o que sou...
Para ti, nada.

S. Quimas

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Não busco mais a esperança

Sir John Everett Millais - Ofélia


Não busco mais a esperança,
Pois ela a mim não passa de um fardo inútil
Que carregava em minha alma perdida.
Do que adianta alimentar ilusões,
Se o fado de minha vida é não te ter jamais?
Toda essa angústia que tortura o meu ser,
Todo o vazio da tua ausência,
Tudo isso só me furta a paz
E me põe em constante pranto.
Só o que faz a tua lembrança
É me torturar e me desesperar,
É tornar minha poesia triste,
Um canto lamentoso
Que não encontra ouvidos, nem eco,
Pois só eu sei o que sinto,
Só eu sei medir a queda no abismo
Que é te ter distante de mim.
Fico então assim, derramando em meus versos
As lágrimas que já não choram mais meus olhos.
Esses secaram por hora,
Não há mais luz em seu brilho,
Pois brilho neles não há mais,
Só a escuridão do meu espírito,
Que por tanto te amar
Desgraçou-se pela Eternidade.
Que venha me abraçar a morte,
Que ela venha célere,
Que me retire desse mundo
Que de todo perdeu o encanto.
Não quero mais sofrer aqui tanto,
Quero consumir-me em infinito sono,
Apagar de mim toda a lembrança
E diluir o imenso desejo de ti
No limbo do esquecimento.

S. Quimas

sábado, 9 de agosto de 2014

Que brindemos a vida como se fosse este o último momento




Que brindemos a vida como se fosse este o último momento.
Que esqueçamos os pudores, mas principalmente as diferenças.
Que beijemos as bocas de todas as prostitutas e homossexuais,
Que nos aconcheguemos naquilo em que somos maiores
E não na redução de nós mesmos.
Que vejamos o quanto irmãos somos,
Os mesmos defeitos, apesar de toda a nossa pompa.
Quem pode julgar senão a nossa vaidade
E a total falta de discernimento?
Quem tem olhos veja,
Quem tem ouvidos ouça,
Quem tem voz que diga:
Eu te amo.

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Passa um rio em minha vida

Grigory Karpovich Mikhailov - Prometeo


Passa um rio em minha vida,
Mas o que corre em seu leito
Não são águas
Nada senão as tantas mágoas
Que trago em meu peito.
Não são mágoas de ti,
Meu amor, eterno amor,
São as todas que a vida
Me fez sangrar.
É essa dor de não te ter,
De não poder te tocar.
Esse abismo que é a tua ausência,
Onde esparjo as lágrimas do meu desespero,
Onde jaz a denúncia de todo o meu sofrimento.
Da escuridão nascem todas as minhas horas
E não conheço outra luz
Senão a tua imagem em minha lembrança.
Do fosso do inferno de minha agonia,
Grito em vão o teu nome,
Pois tu não me respondes
E tua voz em meu pensamento
É sepulcro onde enterro minhas perdidas esperanças.
Se tu soubesses... Ah, se tu soubesses
A grandeza do meu amor!
Se pudesses sentir
A grandeza da paixão que me estrangula,
Que me arresta o coração,
Que me encarcera por completo.
Elos de um amor que partiu ainda mal vindo.
Nada a mim resta senão,
Como um Prometeu acorrentado,
Ver-me constantemente ser dilacerado
E suportar a atroz tortura
De te ter sempre na memória
E de não te ter em meus braços.
Assim é o fado que a vida me impôs,
Assim é o inglório passar dos meus dias.
Não há esperança,
Só há as minhas muitas preces,
O clamor de toda a misericórdia pedida
E o silêncio compassivo da boca de Deus.

S. Quimas

A saudade que de ti sinto é uma espécie de loucura

Jean-Baptiste Camille Corot - Mulher com uma Pérola


A saudade que de ti sinto é uma espécie de loucura,
Insana dor que o amor insatisfeito provoca.
Resta-me a poesia por consolo,
Antes que se avilte minha alma
E me perca para sempre de todo para a realidade.
Na minha poesia converso com os meus sentimentos todos,
Como dois ébrios em uma mesa de bar.
Às vezes rimos às gargalhadas feito alucinados;
Outras, na mesa não haveria copos vazios
Para reterem em si todas as lágrimas derramadas.
É assim com quem é desmedido no que sente,
Naquele que se embebeda de vida e sensibilidade.
Por que deveria ser diferente?
Por que deveria ser mais contido?
Por que não a loucura, que gera versos,
Do que a pretensa sanidade deste mundo,
Que só gera ódio e guerras
Que assassinam crianças no seio de suas mães?
Melhor assim. Melhor não pertencer tanto à realidade.
Melhor sonhar contigo do que não te ter de modo nenhum.

S. Quimas

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Vivo tão somente de incertezas

Laurent Marqueste - Perseus Slaying Medusa


Vivo tão somente de incertezas
E cada minuto para mim,
Não é senão um todo imponderável.
Mistério tão imenso
Que nem à adivinhação eu me atrevo.
E, assim, sigo feito cego
Que anda sem qualquer orientação,
Pois que desconhece seus caminhos
Por nunca ter por eles caminhado.
A única coisa precisa em minha vida
É que quanto mais vivo,
Mais me aproximo da morte.
Não que a morte me assuste,
Ou por ela tenha qualquer tristeza,
É tão certa e natural
Quanto comer e excretar.
A vida, essa sim, tem me colhido
Frutos nem sempre tão doces,
Tem me fustigado o que pode,
Tem me dobrado e me tornado
Servo de minhas muitas limitações.
Mas, não lamento ter existido.
Se faço lamúria é pela dor
E ainda assim, dela faço versos.
Ao menos em alguma coisa
O mau fado me traz proveito,
Traz-me inspiração.
Há flores em minha vida,
Ainda que nasçam em túmulos.
Mas também as tumbas e mausoléus
Tem lá sua graça.
E muitos carregam anjos de pedra,
Airosos, mas presos à rigidez do mármore,
Que lhes dá corpo e forma.
Eu não retrato a realidade em minha poesia,
Descrevo o sentimento que ela provoca.
Uso as palavras, pois me encanta usá-las,
Poderia usar silêncios ou somente pensamentos,
Porém tenho ganas de aprisionar
A sensibilidade na superfície do papel.
Em alguns momentos faço-o com rara beleza,
Em outros parece que algo foge
E torna branca a tinta preta sobre a pauta,
Deixando escapar o espírito
Que lhes deveria animar.
Mas é também assim com a própria Natureza,
Nem toda a semente se torna novos frutos.
Tem horas que me embriago tanto de poesia,
Que até deliro e já não pertenço mais a mim,
Ou a este mundo,
Minha alma se faz poema
Tinto de muitos infinitos.
E vou assim seguindo,
Sem muito pensar onde a estrada me leva,
Pois o que importa são os passos dados
E as flores colhidas no caminho,
Importa o céu e a miríade de estrelas,
Ainda que tenha que advinha-las
Quando o manto negro se veste de nuvens.
O que verdadeiramente importa,
Não é tanto vê-las,
Mas ter a certeza que estão lá.

S. Quimas

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Páginas em Branco

Pintura Chinesa


Páginas em branco... Incontáveis.
Que ânsia é essa de extravasar
A alma que transbordava
Só silêncios?
E, também, na mudez de palavras
Sem sentido algum,
A menor coerência.
Em, também, em pensamento nenhum,
Só sossego e infinita contemplação.
Por que me assanhas poesia?
Por que assim me dominas?
Acaso sou para-raios do mundo?
Médium de todas as criaturas
E de todas as suas vicissitudes?
Acaso também não mereço calma
E não possa minha alma
Apenas existir?
Existir e tão somente seguir
O curso incerto das minhas horas?
Teu jorro é como inundação em minha mente
E não posso evitar que me alagues por completo
Todos os meus sentidos, razão e sensibilidade.
Não faço versos como um matemático
Que persegue um teorema impossível,
Faço-os todos porque tu me impões fazê-los,
Porque tu me dominas e me submetes.
Tu és o Céu e o Inferno,
Deleite e tragédia,
Tudo ao mesmo tempo.
É o sofrer na alegria
E o gozo na angústia.
Eu já nem sei mais de mim
Tão completamente entregue estou a ti.
Sou hoje só sentimento e palavras,
Um amontoado incomensurável delas
E tudo o que me fazem sentir.
Já não sei absolutamente de mais nada
E a razão clama que reflita,
Mas estou por ti escravizado e sigo.
Página após página, linha após linha,
Palavra após palavra.
Sei lá muitas vezes o que escrevo,
Só sei quando o ponto é final.
Tu me incorporas e me levas ao devaneio
E, sem meditação, meu ser
Rompe a barreira da sanidade.
Eu não sei o que canta em mim,
Ou através,
Mas o canto é maravilhoso à minha alma
E deliro e sigo escrevendo.
Ah, que melodia maravilhosa ouvem meus ouvidos!
Acho que enlouqueço.
Pessoas normais não fazem isso.
Simplesmente pessoas normais vivem.
Ou apenas existem, como disse Oscar Wilde.
Em nada me preocupo por elas,
Pois a própria vida é decisão que cabe a cada um.
Eu sou pelos sonhos, a arte e todo o devaneio.
Minha loucura é uma janela escancarada
Que a todos possibilita ver o interior
Da morada do meu espírito.
Mas, não é assim que deve ser?
Não é a nossa alma o que importa revelar?
Há tanta dissimulação no mundo
Que até vomito em certas horas.
Não por nojo,
Mas pela carga de mal que me nauseia,
Contida em toda ação afetada.
De fingimentos jamais vivi...
Possa eu ter amenizado,
Possa eu ter ter evitado ferir,
Mas falsidade, jamais.
Tenho me dado como sou desde sempre,
Esse mínimo que sou,
Mas por completo.
Muitos me odeiam.
Possa ser que alguns me amem.
Não sei o que se passa no interior de cada um
— E sei.
Não me importa.
Enquanto houver no mundo,
Janela ou porta,
Hei de entrar e sair.
Que estejam abertas,
Senão as arrombarei!

S. Quimas

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Não é mágoa o que sinto

Edward Hopper - Noitívagos


Não é mágoa o que sinto,
É tão somente uma tristeza profunda,
Uma melancolia que escorre feito lama
Por toda a minha alma,
Cobrindo-me de dor e angústia.
Lá fora chove
E um vento gélido sacode as árvores,
Agravando ainda mais o meu desespero.
Sei que não mais voltarás,
Sei que o meu pranto jamais secará.
A mim só resta o passar das horas,
O caminhar por esse vazio imenso
Que é a tua ausência.
Não tenho asas para cruzar
Tamanho abismo que se abre sob meus pés,
Então mergulho na profundidade
Da minha desdita,
Desse fado tenebroso
E meu espírito se perde
Em meio a essa escuridão sem fim.
A única luz que há
É essa chama eterna,
A imagem tua que jamais estará
Distante dos pensamentos meus.

S. Quimas

sábado, 2 de agosto de 2014

Governo

Ilustração:  Norman Rockwell


Os governos deveriam ser facilitadores ao desenvolvimento pleno de seus governados.
Governar democraticamente é administrar a riqueza humana e física do país e não, planejar políticas de dominação, ou que atendam unilateralmente interesses de grupos mal intencionados. É não compactuar com a cegueira dos fanáticos e permitir o cerceamento das liberdades individuais e o direito à opinião pessoal.
Governar é servir a todos e não à cupidez de uma minoria.

S. Quimas

Atitude e Sabedoria

Sri Krishna


O ato que demonstra a mais profunda sabedoria é o que reconhece, apesar de todo o comportamento e aparências, na profundidade de todas as coisas e no interior de todo o ser, o Deus que lhe é a real existência.
Namastê.

S. Quimas

Mater Dolorosa

Assim como o lótus nasce do pântano, a vida renascerá da dor do mundo.

Homenagem às mães e crianças, vítimas da guerra judaico-palestina de 2014.

Mater Dolorosa,
Teu filho agoniza em teus rendidos braços,
Vítima da torpe indiferença
Dos adultos atrozes
Que olvidaram a infância
Que jamais de fato tiveram,
Encarcerados em suas constantes vigílias,
Sobressaltados pelos estertores das armas,
Consumidos pelas chamas de explosões.
Quem poderá de algum modo repousar
Na vizinhança do Inferno?
Quem terá real sossego
Movido de terror e agonia?
A tua casa ruiu em desespero
E levantou-se dela a poeira da desesperança.
A luz que iluminou teu dia hoje cedo
Foi a treva do teu imenso desconsolo.
Mas quem poderá consolar-te
Enquanto teu filho agoniza em teus braços?
Quem poderá repô-lo ao teu carinhoso seio?
Trazer-lhe à vida que agora se míngua
Diante de teus olhos lacrimosos?
Quem?
Tua face desesperadamente contorcida
É retrato da dor toda sem dimensão
Que te consome por completo a alma,
Que derrama teu incerto fôlego
Em grito desesperado.
Em teus braços o silêncio,
A morte que cava incansável
O túmulo dos anjos desterrados.
Nessa hora não há deuses possíveis,
Nenhum conforto à tua dor;
Há a todas, mas não a esta única.
Um minuto é milhares de horas,
O tempo se alonga
Como a lâmina que sangra o teu coração.
A dor é viva, pungente,
E rouba-te a sanidade.

Um leve movimento
Arrasta os lábios inocentes,
Um último que o tinge de roxo,
É quase um sorriso,
Um sorriso que se perdeu
Na Eternidade do teu abraço,
Do teu doce amor.

Tudo está consumado.

S. Quimas