quinta-feira, 19 de junho de 2014

Lá fora a chuva cai e eu me lembro de ti

Arte: Paul Lasaine


Lá fora a chuva cai e eu me lembro de ti.
Não é só a chuva, mas tudo te traz à minha lembrança:
A brisa tépida despenteando os meus cabelos,
O cheiro das flores que colho pelo caminho em uma manhã qualquer,
Aquela criança no parque que outro dia me sorriu
E me causou a mais profunda emoção — as crianças sempre causam —,
O som festivo das maritacas, que chegam sempre à mesma hora
Para se alimentarem das sementes das palmeiras no jardim,
A música romântica que toca em um rádio em alguma casa da vizinhança,
Enfim, a ânsia que tortura o meu corpo buscando o teu,
Minha boca que deseja teu beijo, que é como um sonho
Que se sonha num abraço mesmo desperto.
Recordo-te e parece que te vejo ainda deitada nua em meu leito,
Tão bela, tão sedutora, razão de todo o meu desejo.
Enquanto cai a chuva, eu permaneço aqui em silêncio,
No mais completo devaneio.
Quase posso te tocar com minhas mãos, tão real tu te fazes para mim,
Porém um trovão freme as janelas de meu quarto
E, assim, desperto. Só vejo à minha volta as paredes e os móveis.
Levanto-me. Estou com sede.
Quando caminho em direção ao jarro d’água, tropeço em algo.
É teu retrato que mandei emoldurar.
O vidro se partiu em pedaços,
Feito qual, quando tu foste embora,
O meu coração.

S. Quimas

Site de Paul Lasaine: http://lasaineportfolio.blogspot.com.es/

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