sexta-feira, 27 de junho de 2014

Das horas sabem os relógios

O Relógio Derretido - Salvador Dali


Das horas
Sabem os relógios,
Mas eu não pertenço
A tempo nenhum.
Não tenho rumo
Nem paradeiro,
Sou como o vento,
Sopro aqui,
Ali,
Em todo o lugar.
Sou como
Corisco que risca
O céu e troveja,
Que incendeia a mata,
Mas que ninguém
Consegue pôr a peia.

A tudo e a todos
Presto, sincero,
Veneração,
Mas a nada
Prendo-me
Se não for
Por minha vontade.
Nunca fui morto,
Porque jamais
Dei o pescoço
A qualquer carrasco.

Até as minhas dores,
Aquelas mais cruéis,
Em mim se fizeram
Janelas,
Poesia,
Para eu poder
Espiar para
Fora da minha vida.

Das horas
Sabem os relógios.
De mim,
Nem eu mesmo.


S. Quimas

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