sexta-feira, 15 de abril de 2011

Zé Bicudo

Há aqueles que se entregam prontamente às ideias, sem nenhum questionamento. Basta-lhes muitas vezes, apenas novidades, um encantamento qualquer. Outros, céticos, duvidam mesmo da razão, cegam-se aos fatos, vivendo em um mundo de bases voláteis, onde nada se sustenta por mais que um ínfimo lapso de tempo.
Entre uns e outros existem os sábios e os idiotas, e Zé Bicudo.
Basta de divagações. Sigamos.

O pinguço e a missa

Os Perigos de ser um Bêbado - Adam Metzner

Entrou na igreja bêbado feito gambá cevado. Sentou-se num dos bancos à esquerda, numa das últimas filas.
Rapidamente chamou a atenção dos presentes devido ao cheiro de cachaça que exalava, inundando o ambiente.
Por alguns momentos, todos se voltaram para o visitante indesejável, porém, com um pigarreio, o padre reconduziu a assistência à rotina da missa.
A missa seguia e o bêbado não aguentando mais os efeitos do porre, pegou no sono.
 Depois de alguns minutos passou a roncar escandalosamente, causando verdadeira comoção entre os presentes.
Os cochichos foram inevitáveis, e a atenção à pregação se dissipou mais uma vez. Notando o fato e aborrecido com o homem embriagado, o sacerdote pediu licença aos fieis e, descendo do púlpito, dirigiu-se ao banco onde dormia o causador de tantos problemas.
— Hei! Hei! — Chamou o padre, sacudindo o bêbado por um dos ombros, sob o olhar curioso de todos ali. — Acorde!
O gesto logrou inútil, o homem estava totalmente inconsciente devido à embriaguez.
Assim, o padre resolveu chamar dois homens da assistência para ajudá-lo a remover o embriagado.
Levaram-no para a sacristia e colocaram-no deitando em um sofá.
Fazendo o sinal da cruz diversas vezes e olhando para o alto na busca de conforto, o padre se retirou com seus ajudantes, voltando ao púlpito, fazendo prosseguir o ritual religioso.
Por volta de uns trinta minutos após, para estupefação geral, eis que o ébrio, vindo da sacristia, dirige-se ao vigário e diz com voz ainda visivelmente embriagada:
— Sua Santidade! Psiu!
O padre paralisado ouve o homem.
— O vinho eu encontrei. É muito bom. Mas onde o senhor guarda o patê para passar nas bolachinhas que estão no armário?
O sacerdote desmaiou.

S. Quimas 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Quem Interessa a Guerra

Over the Top, Neuville-Vitasse por Alfred Bastien


Desde tempos obscuros, no início dos primeiros grupamentos humanos, movidos pelas mais variadas necessidades, o ser humano vem combatendo a sua própria espécie. Na escassez de alimentos, muitas tribos ou bandos invadiam os territórios alheios e numa carnificina desenfreada, tomavam para si o que a outros pertencia. Outro motivo que induzia a este comportamento era a territorialidade e a xenofobia, que levavam à destruição do semelhante em prol da conservação do território, tido como posse, ou o medo de ser invadido e dominado por quem vinha de além.
No centro da questão, sempre a posse, a propriedade, a circunscrição do limite de uso pelo outro de algo que era tido como seu. Herdamos isto do nosso estado animal e até os dias atuais não superamos esta visão insular da propriedade e resistimos em compartilhar os frutos da vida generalizadamente.