domingo, 26 de janeiro de 2014

A arte de viver

S. Quimas - Songs of Freedom (retrato de Bob Marley) - Pastel


O teu destino não pode ser guiado pelo resultado de experiências alheias, pois a tua verdade, a verdade de teus sentimentos e razões são únicas e só a ti pertencem. A vida de uma outra pessoa pode ser para ti, como para qualquer um, uma fonte de estímulo, inspiração, mas jamais será maior do que a tua própria vivência.
Ninguém vive da mesma maneira, percebe os fatos do mesmo modo. Cada um tem seu sonho, sua visão pessoal acerca de tudo.
Viver é antes uma arte do que uma ciência exata.

Luz e Paz.

S. Quimas

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Construindo o Edifício da Paz - 2(b)

Leopold Carl Müller - Mercado no Cairo, 1878.


2. A Sociedade

Segundo o Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, de autoria do filólogo Francisco da Silveira Bueno, sociedade é “O conjunto de indivíduos que vivem juntos sob o regime de direitos e deveres recíprocos. Grupo de pessoas que se unem para obter um mesmo fim, um mesmo objetivo, cooperando cada qual com as suas atividades, trabalhos e posses...”.

Fundamentalmente, para que se organize uma sociedade é essencial que esta tenha por base um conjunto de regras, que equilibre e harmonize as relações entre os indivíduos. Toda a prática social é regulada com a finalidade de favorecer atingir os objetivos comuns, mas sem gerar prejuízos aos indivíduos que compõe a sociedade.

No Mundo-Família que habita o Edifício da Paz, nenhum dever é imposto, pois cada indivíduo se apercebe do seu papel e assume espontaneamente perante toda a sociedade as responsabilidades que lhe cabem, pois sabe o quão importante é o papel que desempenha para o equilíbrio dos demais, para o cumprir das metas objetivadas.

Neste Mundo, todos os indivíduos se amparam mutuamente, procurando suprir as deficiências comuns, trazendo soluções aos problemas, fato inerente a todo ato criador. Todo indivíduo, desde aqueles que se dedicam a atividades de manutenção, como coletores de lixo, varredores de rua, capinadores, até aqueles que planejam, estão conscientes que de seu desempenho surge a possibilidade de toda a conquista. No Mundo-Família não existem escalas de indivíduos, mas multiplicidades de modos de cooperação.

Cada pessoa está plenamente em posse de seus direitos e têm-nos como uma oportunidade de ampliar o seu potencial de desenvolvimento como Ser e de poder cada vez mais amplamente ser cooperador da sociedade onde atua, pois, antes de tudo, seus direitos estão fortemente alicerçados no bem-comum.

No Edifício da Paz não há o conceito de deficiências, não como comumente se define tal tema. Neste Edifício, toda a insuficiência é abordada como uma proposta à superação e não como causa de humilhações, exclusões e abatimentos.

Onde impera a boa-vontade, até a árvore que, por contingência, está incapacitada de produzir maiores frutos, também é aproveitada.

Neste tipo de sociedade se planeja levando-se em conta, principalmente e antes de tudo, o bem-comum. Todas as ações visam o equilíbrio e a harmonia de todos os que a compõe e não o favorecimento de um indivíduo ou de uma classe. Todos são solidários com todos.

Cada diretriz a ser implementada é exaustivamente meditada, até que reflita integralmente o melhor modelo, aquele que produza em um determinado momento o melhor efeito e se traduza em um maior benefício. Estas diretrizes surgem como uma aspiração ao máximo desenvolvimento social e não como uma imposição derivada de um estereótipo alienígena ao núcleo onde serão orientadoras das ações. Toda a solução de adequa ao meio e ao momento de sua aplicação.

No Edifício da Paz a sociedade se organiza tendo por motor a cooperatividade e a partilha justa dos frutos. Nele ninguém passa individualmente necessidades, pois estas estarão atendidas e toda a riqueza é um bem comum. E, principalmente, todos têm acesso a esta riqueza. Nele também não há desperdícios, pois as sobras de um compartimento são compartilhadas com os outros que careçam naquele momento daquilo em que outro se produza em abundância.

A solidariedade é irrestrita e está alheia a matizes filosóficos individuais, a condições de natureza étnica, etária, sexual, intelectual, ou outras, relevadas pelo preconceito.

No Edifício da Paz as pessoas se distinguem pela sua capacidade de amar ao semelhante, de esforçar-se belo bem de todos, de criar condições para o bem-estar comum. Nele, o maior prêmio é a convicção de que se cumpriu o seu dever o mais brilhantemente possível visando o desenvolvimento de uma sociedade justa, ordeira e fraternal.

Nele, quem capina a rua, se esmera para que as vias públicas estejam livres de ervas que prejudiquem o asseio e a estética. Quem coleta o lixo — casual nas ruas, pois todos se esmeram, evitando lançar detritos em vias públicas — sente-se orgulhoso, pois sabe o quão é essencial o seu trabalho na manutenção da higiene e saúde da sua sociedade. Aqueles que educam estimulam a criatividade e a sensibilidade, criando condições propícias ao pleno desenvolvimento de seus educandos e por tal, são gratificados com justiça e não, tratados com desprezo e irrelevância, fato tão comum em países que ainda não se aperceberam o quanto a educação é fundamental para o seu desenvolvimento.

Planejamento e organização são a pauta de todos os dias no Edifício da Paz, pois todas as ações são integradas com o fim de atender plenamente a todas as necessidades da sociedade e a favorecer o pleno desenvolvimento de todos os indivíduos que a compõe. E se sabe que sem estes dois basilares, jamais se terá uma sociedade justa, ordeira, pacífica, produtiva e benévola. Que sem tal suporte é inevitável a desagregação e a extinção de qualquer civilização.

Que a Paz esteja contigo.



S. Quimas

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Definição de Arte

The Milkmaid, Vermeer, ca. 1660 (Rijksmuseum)


DEFININDO ARTE

A arte compreende uma classe de coisas completamente inúteis, mas que são imprescindíveis a algo totalmente subjetivo e imponderável que se chama Espírito.

S. Quimas

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Construindo o Edifício da Paz - 2(a)

O Juízo Final - Afresco de Michelangelo na Capela Sistina
O Juízo Final - Afresco de Michelangelo na Capela Sistina, Vaticano



Outros dois elementos também tomam parte na construção do Edifício da Paz: planejamento e organização.



Planejamento e Organização

1. O indivíduo

Escasso é o nosso tempo livre nos dias atuais. Estes dias em que tudo se move a jato, em que satélites ao redor da Terra nos enviam informações, que só encontram barreiras para se tornarem instantâneas, na velocidade da luz. Que dias excelentes e grandiosos seriam se, unidos, todos nos abraçássemos globalmente, dando uso ético a tão brilhante tecnologia.

Contudo, o mesmo “chip” que possibilita-nos o relacionamento através dos computadores e redes de informação, é aquele que direciona mísseis que destroem populações e mutilam crianças.

O homem não é por natureza uma criatura infernal, mas tem a potência para realizar o Inferno dentro de si mesmo e exteriorizá-lo, aviltando o mundo que lhe recebeu por lar. Falta-lhe a percepção, o entendimento do conceito de Planeta-Lar e Mundo-Família.

Mas como pode este mesmo homem ter lucidez, se é inundado com uma torrente mecanismos a fim de seduzi-lo ao distanciamento dos conceitos essenciais à manutenção de uma sociedade coesa, onde preponderam a justiça e o bom relacionamento, que são: lar e família.

Estes dois citados elementos são matrizes na constituição de todo o sistema universal e alicerçam tanto sociedades animais e humanas, quanto galáxias e átomos. Não está aí uma das raízes da miséria humana? O ato de aviltar um sistema que por si só o precedeu em bilhões de anos e que, comprovadamente é eficiente? Ainda mais que ele, o homem, se originou desta matriz.

Hoje se chama de vírus o elemento que procura destruir ou corromper a organização do sistema. Seremos?

Quando cito sistema, não estou querendo referendar este que nos foi imposto, fruto das alucinações totalitaristas de uns poucos, movidos pela ganância e egoísmo, que não leva em conta, a não ser quando isto lhe faça gerar ganhos, a visão holística do Ser, esteja este manifestado na forma que estiver.

Contudo, podemos reverte o quadro sinistro que teima em assombrar os nossos dias. Para isto, temos que “planejar”.

Foi citada em texto anterior, a necessidade deste planejamento, da meditação sobre a causa dos desequilíbrios, a sua identificação e de ações concretas voltadas ao seu reparo.

Tudo isto é uma tremenda utopia, pois sequer temos algum tempo para descansar, quanto mais para nos ocuparmos com abstrações. A única coisa possível no dia-a-dia é nos estiramos num sofá após o banho, tendo largado do trabalho, e consumirmos a televisão até que nos venha o sono. As nossas cabeças sequer são capazes da mínima reflexão e mal e parcamente, balançamos a cabeça, concordando ou reprovando, quando o apresentador do telejornal desfila o leque de notícias da noite.

Assim, querem que creiamos, porém, de fato, não é uma situação irreversível.

Não defendo a tese da alienação, de que basta-nos decorar alguns versos religiosos, nos desocupando do que acontece ao nosso redor, para que nos iluminemos. A minha tese é que importa isto sim, o modo como lidamos com tudo isso e qual é o real centro de nossa existência.

Existe um visível vampirismo por parte dos meios de comunicação — abrindo algumas exceções particulares —, que por não produzirem commodities, procuram aliciar-nos através da subjugação da capacidade de reação instantânea. Para ser mais claro, cito um exemplo: se acaso nos derem um alimento podre para comermos, automaticamente iremos expulsa-lo, cuspindo ou vomitando. A persistência no consumo de alimento estragado pode levar à morte, coisa que procuramos evitar. Já com a mídia, por exemplo, a reação pode ser tardia, ou mesmo nula, tendo a grande possibilidade de assimilação, sem qualquer reflexão. Morremos, assim, espiritualmente, sem nos apercebermos que fomos envenenados.

Então, qual o melhor caminho a ser adotado?

Primeiramente, devemos planejar nossos dias, enumerando as suas prioridades, entre elas, períodos de tempo para reflexão, para tomarmos consciência de nossas atividades. Muitos presidentes e diretores de empresas caíram ou foram presos, pois constavam suas assinaturas em documentos que autorizavam ações criminosas ou não éticas. Muitos deles sequer sabiam realmente o conteúdo do que assinavam, mas como fazia parte de sua rotina, assinar documentos, faziam-no como um artista dá seu autógrafo a um fã. Foram logrados? Sim. Mereciam a condenação imposta? Certamente, mas não pelo crime involuntariamente cometido, porém por um mais terrível, o de se terem permitido transformar-se em zumbis de terno e gravata, indiferentes a si mesmos e a realidade que os cercava.

Com um pouco de planejamento, podemos realizar de forma organizada muito durante um dia, tendo tempo para desempenharmos adeqüadamente as nossas atividades.

As pinturas de Michelangelo na Capela Cistina entre o teto e o painel do Juízo Final, uma das maiores obras primas do gênio artístico humano, levaram mais de três anos para serem realizadas. Contudo, o artista trabalhou sua obra cada dia.

Devemos estar conscientes de cada dia, cada hora, minuto e segundo de nossas vidas e devemos desfrutá-los como a um vinho raro, com a percepção do quanto efêmero é o tempo, para desperdiçá-lo com a inconsciência.

Entretanto, com planejamento e organização podemos escapar do círculo vicioso que nos furta a vida consciente.

“Muitos apenas existem, mas somente uns poucos vivem”. Disse uma vez Oscar Wilde, escritor e poeta inglês da Era Vitoriana.

Um software existe, porém não é vida. O corpo humano é um mecanismo vivo, mas a vida é uma qualidade extrínseca ao corpo. A vida o faz viver e a consciência faz com que ele manifeste. Quanto mais elevado o nível de consciência, mais elevado o nível da manifestação.

Que a Paz esteja contigo.



S. Quimas

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Construindo o Edifício da Paz - 1



Dois elementos são fundamentais na construção de um edifício: colaboratividade e cooperatividade.

Colaboratividade

O Edifício da Paz se constrói com a colaboração de todos. Não é obra do individualismo, mas da união de todos em prol do bem-comum. E pode-se colaborar a partir de pequenos gestos e pequenas ações empreendidas no dia-a-dia.

A Paz, tal qual um edifício, é composta por pequenos elementos, que juntos criam as fundações, que darão suporte a uma civilização pacífica e ordeira. Estes elementos, como as pequenas pedras que formam a base de concreto, que dará sustentação ao imenso edifício, que sobre ela se apoiará, fazem parte de um exercício diário, centrado no objetivo de alicerçarmos um mundo melhor. Independem de fatores externos, como políticas tradicionais, religiosidade, ou qualquer “ismo”. Dependem somente de boa-vontade e determinação, baseados na solidariedade e união.

Se todos colaborarem com a sua cota de trabalho, rapidamente construiremos as bases desta civilização, a principio tida como utópica, entretanto se acreditarmos e contribuirmos na sua concretização, realizável.

Mas, que gestos são estes, que apesar de serem mínimos, podem exercer tanta influência, sendo capazes de dar vida e realidade a uma utopia?

Organizar. Nada se constrói sem ordem. Devemos aprender a organizar nosso dia, nosso meio, nossa vida.

Muitas vezes, sobrecarregados pelos problemas cotidianos, envolvidos completamente por eles, alienados da vida, perdemos o contato com a nossa consciência e passamos a reger nossas vidas por pensamentos e atitudes reflexas, sem ponderação e muitas vezes, sem moderação, de modo compulsivo.

Para que retomemos o controle de nossas vidas, primeiramente, temos que reorganizar o nosso ambiente, principalmente o interior. Devemos anotar as causas de nossos desequilíbrios e dar solução.

Claro, que isto não será feito numa manhã. A proposta é para toda a vida, para que operemos realisticamente, voltados verdadeiramente em alcançarmos este equilíbrio tão desejado, mas tão pouco objetivado em nossos pensamentos e ações.

Se num dado momento, por exemplo, não podemos sanear as nossas pendências materiais, devemos planejar como poderemos amortizar o déficit. Muitas vezes isto exige sacrifícios, porém, se realmente se deseja a solução, haver-se-á de fazê-los.

Dado o primeiro passo, estamos preparados para sermos realmente úteis e transportarmos as Armas da Paz e colaborarmos para a Paz se torne real, tanto em nossas vidas, quanto na dos demais seres.

Pequenos gestos pela Paz. Acontece de ao chegarmos em casa, encontrarmos algo caído no chão, muitas vezes devido a uma rajada de vento algo cai da mesa ou da estante. Quantas vezes resmungando, passamos por cima e simplesmente damos às costas, dizendo não termos nada com isto.

Somos livres para assim faze-lo, porém, acima de tudo, somos livres para assumirmos a responsabilidade de realizá-lo. A nossa casa é parte integrante do Edifício da Paz. É nela que começamos a aprender e experimentar as Armas da Paz na criação de uma nova civilização. Omitir-se é perder a oportunidade de realizar, de participar ativamente na construção do nosso edifício.

Quem tem crianças em casa, sabe como elas são. Adoram brincar e quando brincam, muitas vezes largam atrás de si uma grande bagunça. As Armas da Paz pedem colaboração na manutenção da ordem e na organização do ambiente e não gritos e ameaças. Simplesmente, ao invés de gritarmos, de modo a constranger a criança para que ela recolha os brinquedos e de fim à bagunça, devemos pedir que ela colabore conosco, ajudando-nos a reorganizar o ambiente. As Armas da Paz pedem que contribuamos, ensinando pelo exemplo a virtude da colaboração. Estas armas jamais constrangerão, submeterão. Elas sempre buscarão o consenso e educarão para o bem, principalmente através do exemplo.

Não nos custa ajudar o próximo: emprestarmos algo aos nossos vizinhos, carregar as bolsas de compras de alguém sobrecarregado, cumprimentar com um sorriso às pessoas, demonstrar interesse real pelos outros, estar sempre aberto a ser útil nos ambientes que convivemos.

Muitas são as Armas da Paz, mas sem dúvida, as suas maiores são os menores gestos, as pequenas atitudes. Um bom dia sincero muitas vezes transforma uma manhã tempestuosa em um dia feliz.

Cooperatividade

Exercitando a colaboratividade, passamos a estar aptos à cooperatividade.

O fundamento de uma cooperativa é a união de todos os cooperados com o objetivo de alcançar o maior bem possível e distribuí-lo de forma justa entre si.

A cooperatividade visa organizar os meios e realizar a finalidade, que é retornar o produto das ações em benefícios multiplicados para todos. Distribui responsabilidades segundo a capacitação e vocação de cada um, jamais abusando, nunca reprimindo ou coagindo, e sempre recompensando de forma absolutamente justa a quem coopera.

Na cooperativa do Edifício da Paz, todos trabalham segundo sua função para o bem-comum, todos se amparam, todos contribuem para a ordem, todos são solícitos em prestar ajuda. Nela o individualismo dá lugar à união de todos, pois os cooperados sabem que somente unidos realizarão algo que perdure. Nela não se lamenta o mundo não ser o ideal, nela se planeja e se trabalha com o objetivo de que isto se realize.

O Mal atua, muitas vezes preponderando, devido a acreditar firmemente nas suas convicções e, com base nisto, opera diligentemente para atingir os seus fins. Quando os Soldados da Paz tiverem sinceramente incorporado em si, a crença de que podem construir uma civilização benévola e justa, moldada nos princípios do amor, da verdade, da beleza, da fraternidade, da conservação da Natureza e de seus recursos, e do respeito para com todos os seres, não haverá mais terreno para os empreendimentos do mal, pois o Edifício da Paz ocupará o mundo inteiro.

Que a Paz esteja contigo.


S. Quimas

Observação: Esta série de ensaios sobre a paz foi escrita pelo autor e publicada como colaboração ao Movimento Mundial Armas da Paz.