quarta-feira, 11 de junho de 2014

Já não há mais auroras em meus dias

Arte: Serge Marshennikov


Já não há mais auroras em meus dias.
Somente a noite habita minha alma,
Pois tu, que me eras a luz, foste embora.
Perdi-te num sonho, um atroz pesadelo,
Nas brumas dos tempos, milênios idos.
Agora em nada meu espírito se compraz
E só tenho a noite por companheira.
Não há mais o cantar dos pássaros
Logo cedo, mal vindo o nascente,
Não mais a brisa fria invadindo
A janela teimosa no não se abrir.
Tudo isso passou. Perdeu-se de mim.
Agora, só a escuridão sem lua
E a dor lancinante me acompanham.
Fazem-me a corte, se lançam em sedução.
Minha alma se entrega ao desespero
E em meu rosto só as lágrimas da tua ausência.
Quanta dor poderá um homem sofrer?
Quanto desespero poderá suportar?
Quanto? Quanto? Quanto?... Quanto?
Nada em mim é tão certo quanto o amor
Que por ti sempre dediquei.
Nada... Nem saber-me vivo é tão certo,
Pois o viver, com certeza, é impreciso,
Tão incerto como a chegada ao destino.
Minhas horas se vão, todas, a cada segundo
Em que, teimoso, o relógio faz marcar.
A cada badalada vejo-me desta vida
Cada vez mais distante, menos presente,
Cada vez mais próximo da partida.
Minha mente divaga, não há mais sanidade
Em qualquer pensamento meu.
Só há a ti. Tu, presença constante,
Dor imensa que não consigo evitar.
Tu és como um grito que nunca se cala,
Presença abominável que me assombra,
Mas que é tudo o que mais amo
E, assim, me desespero...
E onde tu estarás? A que tempo tu pertences?

S. Quimas

Site de Serge Marshennikov: http://serge-marshennikov.tumblr.com/

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