sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Taverna

David Teniers the Younger - Tavern Scene

É na taverna que afogo os meus dias,
Assim nada deles restará.
Dias de solidão, enfados, sem propósito,
Do tempo que percorro
Como uma estrada cheia de vilanias e fraquezas,
De uma covardia que só encontra par
Na impotência absurda de minhas atitudes,
Se atitude pode se chamar a paralisia
Que, aviltante, só me mergulha ainda mais
No ostracismo auto imposto ao meu reagir.
Quanta torpeza me reveste,
Feito uma roupa encomendada ao alfaiate,
Costurada sob medida para caber todas as minhas frustrações.
Copos desfilam na minha mesa,
Tal qual fossem um exército cristalino
Combatendo em mim contra toda a verdade.
Só me fazem entorpecer,
Só tiram de mim qualquer vestígio de consciência,
Se consciência eu já possuí de fato.
Sigo assim noite adentro até que meu corpo tombe
E só reste de mim esse trapo humano,
Que porcamente recobre minha alma.
Não há esperança que me levante do chão,
Não, não há qualquer esperança.
A porta da taverna se fecha
E eu tomo meu lugar a um canto da calçada.
As pessoas passam e torcem o nariz
E resmungam qualquer coisa que não entendo.
Fico ali prostrado, um morto-vivo
Empalhado pelo único amigo que possuo:
O álcool que me mata a cada gole,
Mas que me é consolador.
Quando o dia clareia e se firma o sol no céu,
De novo dou meu braço à morte
E seguimos juntos para o primeiro bar que abre.

S. Quimas