quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Essa noite vão me matar



Essa noite vão me matar.
Vão me matar com suas absurdas certezas,
Com suas crenças que jamais se questionam.
Vão me matar pelo tédio da sua repetição,
De suas vidas comezinhas,
O sempre, mesmo, o sempre.
Vão me matar pelo tédio de suas mesmices,
De suas hipocrisias veladas em retórica
De firmezas que não há em si mesmos.
Vão me matar porque devo ser morto,
Pois morto deverei ser,
Já que não compartilho de inércia e grito.
Meu grito às vezes é o que é silêncio,
Pois muitas vezes silêncio é sinfonia,
É música maior.
Quem sabe do poeta o que vê?
Seus olhos se estrangulam num mundo de falácias,
Mas veem a tudo, como exatamente vê.
O que declara é ignomínia, é o prevaricar
Da sua consciência e o derramar da insuficiência,
Toda a sutileza da porrada que dá em sua alma
Para que acorde a cada instante
E só durma em seus sonhos e devaneios.
Ser poeta é tumba e útero,
É sempre se parir outro a cada instante
E morrer para outro momento e renascer.
Não desejo glória, ao menos que me ouçam
E nem tanto,
Pois que sejam surdos,
Mas me compreendam os gestos,
Se gestos de fato vêm de mim,
Se palavras possam sê-lo,
Contudo que nenhuma delas
Não seja somente sinceridade.

S. Quimas

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