sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O que me apavora

A Neve Está Chegando - Abram Ahipov


O que me apavora
Não é a ignorância,
Mas a exata certeza daqueles que não duvidam.
Esses que se insuflam de textos
E não pensam por si mesmos.
Que são capazes de citar
Toda a linhagem de Sócrates,
Mas são vazios de filosofia própria.
Parecem estantes de livros,
Máquinas fotocopiadoras
E apenas reproduzem o que viram, ouviram, leram.
Não condeno nem a visão, nem a audição, nem a leitura.
Aliás, quem sou eu para condenar alguma coisa?
Só não suporto a interminável ladainha dos intelectuais.
Essa coisa recitativa,
Moto perpétuo de memórias que não lhes pertence,
Pois não viveram.
A filosofia é uma caixa de Pandora
E a poesia uma dor de coluna
Para os sábios virtuosos.
Onde a verdade?
Que verdade, se a cada instante tudo se transforma
E a impermanência de tudo é tão visível?
Onde as certezas?
Só vaidade e ilusão.
Melhor o sonho,
Pois sonhar é algo,
Verdade é abstração.
Condenem-me, me levem ao Gólgota.
A cruz é para aqueles que ousaram,
Não para os conformados
Da eterna mensagem repetida.
Prefiro a cegueira
Do que a lucidez dos reflexos.


S. Quimas

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