quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A flor vai se desvanecendo



A Joly Braga Santos

A flor vai se desvanecendo
Tal qual paisagem encoberta pela névoa.
Não lhe sobram dias.
Quiçá horas a sustente. Minutos.
Quiçá...
Não há vigor em sua natureza,
Mas na sua efêmera beleza.
Essa nos deixa marcas,
Indeléveis imprecisões do tempo que se extingue.
Tudo passa,
Também passa a flor e toda a sua exuberância,
Seu perfume, a cor, a forma.
Restam memórias,
Essas que com o tempo
Transformam-se em vagas lembranças,
Imprecisão.
Assim é a vida que jorra em morte,
Que se esvai em nadas ou dúvidas,
Que consome eternidades.
É assim, uma infinita impermanência,
Uma constante metamorfose.
É como uma sinfonia,
Apenas estados de alma,
Sons que evoluem no tempo,
Desapego de formas
Para criá-las outras.
É a fome e o vício de Deus
De eternamente criar
E recriar, e recriar, e recriar...
Tudo deseja eternidade,
Mas eternidade não há.
Não do ser o mesmo.
O mesmo não existe para o tempo.
O tempo devora a tudo
E a tudo transforma.
Nem mesmo versos impressos
São os mesmos numa segunda leitura.
A cada instante outro estado de alma,
Outra compreensão.
As peças são as mesmas
No caleidoscópio da vida,
Mas sempre imagens outras.
Nada há de triste nisso,
Só o frio espelho do tampo da mesa
Que colhe da flor
A primeira pétala que cai.
Reflexos?
Imagem contraposta do absoluto
E nada.

S. Quimas

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