domingo, 21 de setembro de 2014

Hoje não há poesia

Laelia Purpurata


Hoje não há poesia,
Não tem sonho, devaneio.
Hoje simplesmente o tempo passa
E faz escárnio da vida,
Aquela mínima, sem sentimentos
E ilusões, sem alma e delírios.
Hoje, hoje não há espírito
E o fôlego só mantém o corpo.
Quem sabe, amanhã haverá,
Mas hoje, hoje não.
Hoje os versos fogem, parecem coriscos,
Não há tempo para versos,
Não há para qualquer mínima rima.
Hoje? Hoje não há.
Hoje é um dia seco e estéril,
Como um deserto,
Um amontoado de areias e pedras
Crestado pelo sol abrasador
Que a tudo cresta e consome.
Assim é a luz, assim esse dia.
Um dia de surdez a qualquer inspiração,
Um nada fazer e apenas deixar-se estar,
Um tempo de nada,
Onde a areia escorre pela ampulheta
E a tempo algum marca,
Pois mesmo o tempo não deixa marcas,
Nada muda,
Tudo é como um lago, espelho perfeito
Sem que o vento lhe agite a superfície,
Sem nenhuma transformação.
É assim, nada mais.
Hoje não há poesia
E não sei realmente se amanhã haverá.
Sei de agora, desse ínfimo e exato momento,
Sei que poesia não há.
Penso na face escura da lua
E ao mesmo tempo, que me importa isso...
Nada.
Só sei que não há poesia agora,
Mas, quem sabe,
Poesia haverá.
Não sei quando,
Mas talvez minha alma seja laçada
Pelo raio de uma estrela qualquer
E em mim volte inspiração
E eu apenas declare em um verso
A grandeza de tudo isso,
Da vida e de toda visão,
Que me consuma na loucura,
No sonho e em todo devaneio,
E assim me dê,
E assim me vá.
E assim, apenas,
Me imole em poesia.

S. Quimas

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