sexta-feira, 15 de maio de 2015

Tenho lembrado tanta coisa

Salvador Dali - Bebê Mapa do Mundo


Tenho lembrado tanta coisa
E esquecido de mim mesmo.
A noite passa
E meu sol não acorda
Assim tão cedo.
Sua luz é fugidia,
Não aquece.
Entreolho através das brumas
De minhas desilusões todas,
Buscando motivo de seguir.
Não sei, não mesmo.
Hoje o que me cala profundo
É sonho, sempre foi.
Há horas que tenho vontade,
Uma imensa, descomunal vontade
De apenas me calar,
Não declarar mais nada,
Não caminhar e parar
Em meio à estrada.
Que me condenem os maiores,
Quem jamais teve dúvida,
Que não foi bafejado por aflição.
A canção toca lá longe,
Não sei o que diz
E nem me interessam os versos.
Sigo a melodia,
Nela me deixo embalar.
Não sei da poesia,
Nem do discorrer de notas.
Porém se abrem portas,
Imensas escancaradas.
De uma virtude imensa,
Feito estrume que alimenta planta,
Tamanho desespero de minha alma.
Calma, digo a mim,
Hás de seguir,
Não agora,
Depois.
Os versos se derramam
E chamam isso de poesia,
De iluminação
E privilégio.
Chamo de sacrilégio,
Aviltamento de minha alma.
Calmo, fica calmo,
Digo a mim.
Não te tomes
Pela intensidade imensa
De sentimentos
Que já nem sabes
Que teus os são.
Duas crianças jogam na rua
Um jogo que não sei qual.
São de hoje
E eu não consigo ressuscitar nelas
A criança que fui.
São outras e observo.
Não com aflição
Por serem assim,
O que são
E não com reprimendas pela que fui.
São outras
E nunca as que serei.
Serei? Sei lá!
Possa ser que em outra vida,
Mas não nessa.
Nessa me consumo
Adulto que sou.
Ainda assim, criança.
A infância não me abandona,
Mas resta pouco.
Não que eu seja descrente totalmente
De toda a virtude. Não.
A poesia é imensa,
Não sou mais menino,
Não sou velho,
Não pertenço a tempo nenhum.
Assim me defino:
Singularidade.
Assim,
A bem da verdade,
Sem definição.

S. Quimas

Obrigado por sua  visita. Visite a minha página de arte no Facebook e conheça a minha pintura.

Nenhum comentário: