domingo, 17 de maio de 2015

As luzes retornam mais tarde



As luzes retornam mais tarde,
Agora, só a noite
E as incontáveis estrelas.
A melancolia me toma,
Não que ela seja indesejável.
Ela que sempre foi companheira
De minhas conversas intermináveis
Comigo mesmo.
Lá fora, o frio imenso,
Aqui não menos.
Minha alma reza pelo nascer do sol.
Passam-se as horas
E meu falar interior
Toma-me assim por completo.
Horas não sei o que diz,
Muito não está claro.
Canso de pessimismo,
De indulgência
Com todo o meu não sentido.
Não sei se sou quem escreve,
Talvez minha mão só repita
Uma caligrafia alheia.
De fato não sei.
Mas também, por que sabê-lo.
Poesia não é mistério?
Acaso o poeta o revela?
O poeta só embala
Quem o lê em sonhos.
Uns alegrias, mais felizes,
Outros, uma espinha de peixe
Que teima na garganta.
O que seria da poesia
Sem o desencanto e as dores?
Talvez serenidade,
Porém não falaria do humano.
Nisso a poesia é campeã.
Nada mais senão ela
Para dizer de nossas todas as aflições.
Mais que o rio que flui
Infinitamente suas águas,
A poesia derrama copiosamente
Sentimentos infinitamente.
Eu poderia falar de um menino
Que saltita no campo,
Da sua alegria,
Mas o menino já não salta.
Percebeu como adulto
E se abateu,
Que saltar não cabe ao adulto,
Que tudo o que é infância
É completamente impróprio
E de todo ridículo a um homem.
Tem horas que o menino retorna
E por mias vil que seja
O homem se comporta como ele.
Que mal há em saltar?
Assim se questiona o homem.
Talvez o menino só aguarde
Nascer novamente o dia.
Assim que o sol brotar
Horizonte acima,
Para tomar estrada
E se apossar da vida.
Nele, não é o homem
Que deveras acorda,
Porém o que na sua contradição,
Jamais cerrou a porta
Do seu coração.
Coração menino,
Lavado de angústia e dor,
Contudo, um ponto de luz,
Ainda que pequenino,
Em meio à escuridão de seus dias.
Ponto que se perde no infinito,
Irmão de todas as estrelas.

S. Quimas

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