domingo, 19 de abril de 2015

Tem coisa e outra

Andrew Wyeth


Tem coisa e outra,
Gente vive de fé,
Que não passa de coisa,
Onde não pisa seu pé.
Tem coisa e devaneio,
Melhor a que me veio,
Inspiração oportuna,
Meu caixão, minha urna.
Meu corpo que se enterre,
Antes que se desfaça,
Assim esse personagem
Já não viverá a farsa.
Será poesia e lembrança,
Poética e retórica,
Palavras sem fim.
Que me amou, amou a mim,
Não o produto de minha arte,
Mas minhas loucuras,
Não o céu de meus versos
Tingido de nuvens e suas brancuras.
Amou a mim somente,
Também às minhas trevas.
Meus momentos nenhuns
E todos os outros.
Quem sabe de mim sou eu.
Outros também sabem,
Porém de algo.
Aqui agora, a tempestade desaba.
Que sabe, parta eu daqui,
Desse mundo nessa hora,
Sem nenhuma mágoa?
Meus versos são torpor,
Pura embriaguez.
Falo vezes de amor,
Amor um tanto,
De resto a minha alegria
Somente é pranto.
Há beleza, sublimidade,
Mas muito mais peso
De um lado que equidade.
Não é que reclame,
Não há mérito por um infame
Que ainda faça poesia.

S. Quimas

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