sábado, 25 de abril de 2015

Sou no mundo um infame

Madrigal - S. Quimas


Sou no mundo um infame,
Já não me leem, pois sou poeta do abjeto.
Minha poesia é só cicatrizes,
Punhais perfurando a carne.
Já na falo de flores e coisas agradáveis,
Amenidades que consolem.
Minha poesia se transformou em um vazio imenso,
Maior que minha conduta.
Da poesia ainda se salvam versos,
De mim mesmo mais nada.
Ando pelas ruelas, pelas sarjetas,
Como um cão sem destino,
Um completo arruinado.
Tenho medo de ser reconhecido
E ser apontado:
"Vê aquele, quem diria? Acabou!".
Vivo overdoses da minha falta de sabedoria,
Do meu nefando destino,
Do qual arrimo de mim mesmo não sou.
Sou, sim, um descontínuo,
Gênio da mais erudita contradição.
Faço versos, brinco de ser poeta,
Que nunca fui e jamais serei.
Sou rei. Rei da tirania de minha alma,
Louco deveras, um câncer que se apossa
De uma vida que não vivi,
Já ela nasceu abortada.
Faço da arte uma divisa
De tudo que não tem sentido.
Meu sofrimento?
Tem o tamanho do mundo.
E eu aqui, sem mim,
Sem meu abrigo.

S. Quimas


Nenhum comentário: