quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Páginas em Branco

Pintura Chinesa


Páginas em branco... Incontáveis.
Que ânsia é essa de extravasar
A alma que transbordava
Só silêncios?
E, também, na mudez de palavras
Sem sentido algum,
A menor coerência.
Em, também, em pensamento nenhum,
Só sossego e infinita contemplação.
Por que me assanhas poesia?
Por que assim me dominas?
Acaso sou para-raios do mundo?
Médium de todas as criaturas
E de todas as suas vicissitudes?
Acaso também não mereço calma
E não possa minha alma
Apenas existir?
Existir e tão somente seguir
O curso incerto das minhas horas?
Teu jorro é como inundação em minha mente
E não posso evitar que me alagues por completo
Todos os meus sentidos, razão e sensibilidade.
Não faço versos como um matemático
Que persegue um teorema impossível,
Faço-os todos porque tu me impões fazê-los,
Porque tu me dominas e me submetes.
Tu és o Céu e o Inferno,
Deleite e tragédia,
Tudo ao mesmo tempo.
É o sofrer na alegria
E o gozo na angústia.
Eu já nem sei mais de mim
Tão completamente entregue estou a ti.
Sou hoje só sentimento e palavras,
Um amontoado incomensurável delas
E tudo o que me fazem sentir.
Já não sei absolutamente de mais nada
E a razão clama que reflita,
Mas estou por ti escravizado e sigo.
Página após página, linha após linha,
Palavra após palavra.
Sei lá muitas vezes o que escrevo,
Só sei quando o ponto é final.
Tu me incorporas e me levas ao devaneio
E, sem meditação, meu ser
Rompe a barreira da sanidade.
Eu não sei o que canta em mim,
Ou através,
Mas o canto é maravilhoso à minha alma
E deliro e sigo escrevendo.
Ah, que melodia maravilhosa ouvem meus ouvidos!
Acho que enlouqueço.
Pessoas normais não fazem isso.
Simplesmente pessoas normais vivem.
Ou apenas existem, como disse Oscar Wilde.
Em nada me preocupo por elas,
Pois a própria vida é decisão que cabe a cada um.
Eu sou pelos sonhos, a arte e todo o devaneio.
Minha loucura é uma janela escancarada
Que a todos possibilita ver o interior
Da morada do meu espírito.
Mas, não é assim que deve ser?
Não é a nossa alma o que importa revelar?
Há tanta dissimulação no mundo
Que até vomito em certas horas.
Não por nojo,
Mas pela carga de mal que me nauseia,
Contida em toda ação afetada.
De fingimentos jamais vivi...
Possa eu ter amenizado,
Possa eu ter ter evitado ferir,
Mas falsidade, jamais.
Tenho me dado como sou desde sempre,
Esse mínimo que sou,
Mas por completo.
Muitos me odeiam.
Possa ser que alguns me amem.
Não sei o que se passa no interior de cada um
— E sei.
Não me importa.
Enquanto houver no mundo,
Janela ou porta,
Hei de entrar e sair.
Que estejam abertas,
Senão as arrombarei!

S. Quimas

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