sábado, 2 de agosto de 2014

Mater Dolorosa

Assim como o lótus nasce do pântano, a vida renascerá da dor do mundo.

Homenagem às mães e crianças, vítimas da guerra judaico-palestina de 2014.

Mater Dolorosa,
Teu filho agoniza em teus rendidos braços,
Vítima da torpe indiferença
Dos adultos atrozes
Que olvidaram a infância
Que jamais de fato tiveram,
Encarcerados em suas constantes vigílias,
Sobressaltados pelos estertores das armas,
Consumidos pelas chamas de explosões.
Quem poderá de algum modo repousar
Na vizinhança do Inferno?
Quem terá real sossego
Movido de terror e agonia?
A tua casa ruiu em desespero
E levantou-se dela a poeira da desesperança.
A luz que iluminou teu dia hoje cedo
Foi a treva do teu imenso desconsolo.
Mas quem poderá consolar-te
Enquanto teu filho agoniza em teus braços?
Quem poderá repô-lo ao teu carinhoso seio?
Trazer-lhe à vida que agora se míngua
Diante de teus olhos lacrimosos?
Quem?
Tua face desesperadamente contorcida
É retrato da dor toda sem dimensão
Que te consome por completo a alma,
Que derrama teu incerto fôlego
Em grito desesperado.
Em teus braços o silêncio,
A morte que cava incansável
O túmulo dos anjos desterrados.
Nessa hora não há deuses possíveis,
Nenhum conforto à tua dor;
Há a todas, mas não a esta única.
Um minuto é milhares de horas,
O tempo se alonga
Como a lâmina que sangra o teu coração.
A dor é viva, pungente,
E rouba-te a sanidade.

Um leve movimento
Arrasta os lábios inocentes,
Um último que o tinge de roxo,
É quase um sorriso,
Um sorriso que se perdeu
Na Eternidade do teu abraço,
Do teu doce amor.

Tudo está consumado.

S. Quimas

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