terça-feira, 22 de julho de 2014

Quando eu morrer



Quando eu morrer,
Não me recordem como um morto,
Porque aquilo que morreu de mim,
Eu não sou.
O que sou o mundo não viu,
Mas não todo o mundo,
Pois que o mundo não é a gente,
Mas o mundo real, é aquele que vive
E não apenas existência tem.
Existência também tem os insetos
E nem por isso construíram catedrais,
Sequer tiveram um pensamento religioso,
Nenhuma piedade, nem comiseração,
Apenas se preocupam — e sempre foi assim —
Em nascer, crescer, reproduzir e morrer.
Não lhes falta mente,
Falta-lhes sonho.
Sim, sonho.
Porque poesia, arte, devaneio e loucura
São uma só coisa.
Coisa estranha e sem sentido,
Mas coisa mais real do que o real,
Pois que é transcendente.
Não a essa miséria que cerca os insetos,
Porém a própria insetude humana.
Quando eu morrer,
O único testamento que deixo é esse,
A minha loucura.
Não quero sobriedade, quero o torpor.
Na embriaguez de minha alma
Falo com os anjos...
Com os anjos!
Para que falar com gente que não sente,
Mas só copia o que lhe autorizam a sentir?
Sou rebelde? Não.
Sou poeta.
Pai e mãe
De toda a utopia.

S. Quimas

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