quinta-feira, 26 de abril de 2007

Salute!

Tenho sido um leitor assíduo desde quando aprendi a ler. Isto se deu em meus quatro anos de idade.
Fui iniciado nos mistérios das letras por minha mãe, que foi minha primeira professora e, por conseqüência, minha alfabetizadora.
Aos cinco freqüentei a mesa de Dona Dirce, professora particular que estendeu meus conhecimentos, dando-me lições de gramática, matemática e outras matérias que compunham o currículo escolar da primeira série do ensino fundamental, pois na época não permitiam o acesso de pessoa tão precoce na escola formal, havia a necessidade de se ter sete anos completos para ingressar.
Ao ingressar na escola, um colégio público, após licença especial, entrei aos seis anos de idade, já na segunda série. Para mim não houve problema maior, pois já vira parte da matéria com a minha ex-professora. Assim, prossegui até completar os estudos, se acaso realmente se completa algo em termos de estudo, já que até os dias presentes continuo um estudante de tudo o que me seja de interesse.
Por ser um leitor precoce e ávido por leitura, li muitos livros, chegando a devorar um volume diariamente. Quantos personagens, histórias, conhecimento, reflexões, desfilaram frente à minha visão! Privilégio que agradeço à vida por me ter proporcionado.
Percorri páginas admiráveis, como as escritas pelos grandes autores: Dante, Shakespeare, Goethe, Hugo, Tolstoi, Dostoievski, Zola, Assis, Euclides, e tantos outros, que necessitaria de bobinas e mais bobinas de papel para grafar seus nomes.
Ser leitor é, antes de tudo, ser um apaixonado crônico e incurável pela mente alheia, pelo seu conhecimento, por suas emoções e sentimentos. É desejar unir-se, fundir-se à alma de outro. Padecer e superar com seus personagens, envolver-se em suas tramas, rir e chorar as vidas que emergem das letras. Enfim, é viver navegando no fluxo das palavras por eles grafadas.
A escrita é o fenômeno universal que define com maior precisão o limite entre o primitivo e o civilizado. Mais do que um amontoado de conjuntos arquitetônicos, uma civilização é aquela junção de seres que produzem conhecimento e preservam-no através da escrita.
Neste mundo multimídia em que vivemos, com todos os seus esplêndidos recursos, com sua grafia eletrônica, corremos o risco de termos a nossa memória destruída por um pico elétrico, ou pela falta de energia, coisa que não ocorre com a escrita em papel, que apesar de certo grau de vulnerabilidade, ainda é menos suscetível do que os meios eletrônicos, dependentes da energia elétrica para seu funcionamento.
Fico temeroso por todo o conhecimento que pode ser perdido caso não se possa mais contar com a eletricidade. O analógico ainda é menos propício a este tipo de situação do que o meio digital. Oxalá, não nos falte os meios para acessarmos o que viemos produzindo.
Não obstante nem tudo o que se escreve, nem todo o conhecimento entre tudo o que se publica, ou se acessa, de fato tem valor. Há muito lixo, sempre houve. Talvez, hoje, devido às facilidades tecnológicas, tenha havido um aumento extraordinário do volume de material esdrúxulo. Contudo, de certa forma, nunca se escreveu tão generalizadamente em toda a história humana. Vivemos o período barroco da escrita universal, com todas as suas idiossincrasias e paradoxos, onde o indivíduo ao recém descobrir a sua potencialidade, ainda mal coordenado e equilibrado, atreve-se a dar os primeiros passos no campo do conhecimento e da escrita.
Por aí vemos textos muito mal escritos, repletos de erros, superficiais, frívolos, enfim, puro lixo, mas têm eles a sua importância, pois ensaiam um futuro de seres criadores.
Muitos lhes criticam, simplesmente porque não entendem que tal período é passageiro e, até certo ponto, é bom que tenha vindo tal período, pois desmistifica quem escreve e sinaliza que “todos” podem gerar conhecimento, “todos”podem escrever e não somente uma classe de semi-deuses alçados a gênios literários. Os mitos estão ruindo por terra, seria bom nos acostumarmos o quanto antes.
O conhecimento é intrínseco. As coisas só nos auxiliam a revelá-lo à nossa consciência.
Um brinde, moderado, mas um brinde à nova safra de leitores e autores!

S. Quimas

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