quarta-feira, 18 de abril de 2007

A Corrida de Táxi (Conto)

O táxi havia parado no sinal e o homem no banco traseiro, advogado conhecido na cidade, batia com a ponta dos dedos de uma das mãos sobre a pasta de couro, demonstrado uma visível ansiedade em chegar ao seu destino.
“Será se não dá para ir mais rápido? E esse maldito sinal que não abre nunca!” Pensava, enquanto olhava o relógio. “Acabo perdendo a hora do banco”.
Enquanto isso, o motorista tentava sintonizar uma estação de rádio.
— O doutor não se importa se eu ouvir o noticiário? — Perguntou o motorista, olhando o seu freguês pelo espelho retrovisor.
— É claro que não, logo que eu chegue ao banco em tempo. — Disse um pouco asperamente, tomado pelo nervosismo.
Mesmo com o ar-condicionado ligado, de vez enquanto corria-lhe uma gota de suor, que era prontamente enxugada pelo lenço no bolso do paletó.
— O doutor não se preocupa não, pois se não tiver engarrafado a chega lá em tempo. — Disse o motorista, tentando minimizar o nervosismo do cliente.
— Assim espero.
“Agora à tarde na Glória faz trinta e dois graus”. Falava o locutor do jornal no rádio. “Trânsito lento, com retenções, na Avenida Brasil, sentido Centro-Zona Norte. Na Avenida 1º de Março, trânsito parado devido um acidente entre quatro carros. O nosso repórter...”
A ansiedade aumentava, ainda mais pelas notícias do trânsito e também aumentava o tamborilar dos dedos na pasta de couro.
“Trânsito engarrafado no aterro, nos dois sentidos. Túnel Rebouças... fechado devido a um acidente com um caminhão...”
“Não é possível, logo o Rebouças. O que nós vamos fazer?” Pensou o advogado, agora desesperado, pois o motorista teria que fazer um desvio para evitar o Rebouças e isso alongaria ainda mais o trajeto.
— Doutor eu vou ter que desviar...
“Não, eu não quero ouvir isso”. Pensava, enquanto o motorista ia dando explicações sobre o trajeto que teria que fazer.
— Eu sinto muito, doutor, mas possa ser que o senhor não chegue a tempo. — Comentou o motorista, jogando uma pá de cal no resto da esperança do advogado.
— Mesmo assim, vamos tentar. Eu preciso ir à minha agência ainda hoje, resolver umas questões. — Disse inconformado.
— Então vamos
O motorista fez o mais rápido que pode o trajeto que faltava. Chegaram em frente à agência bancária faltando dois minutos para o fechamento.
O advogado saiu do carro tão apressado que já se esquecia de pagar a corrida. O motorista então lhe grita educadamente:
— Doutor, doutor! Quer que lhe espere?
Voltou-se para trás e viu que esquecia de pagar a corrida. Correu para junto do carro e sacou a carteira, tirando de lá o valor da corrida. Abriu mão do troco e, em disparada, entrou na agência. A porta travou, fazendo com que batesse a testa contra o vidro. Os óculos chegaram a ferir-lhe um pouco o nariz.
Perguntou ao guarda se o banco já fechara. O guarda disse que ainda não e pediu-lhe que se afastasse e voltasse a empurrar a porta com mais delicadeza. Suspirando de alívio o fez.
Com passos rápidos, após atravessar a porta, seguiu para a mesa de um dos gerentes. Esse lhe cumprimentou e pediu que se sentasse.
— Em que posso ajudá-lo? — Perguntou o gerente.
— Vim trazer os papéis do empréstimo...
Não concluiu o que falava. E, antes de ter um ataque, pensou:
“A pasta, a pasta, esqueci sobre o teto do táxi”.
S. Quimas

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