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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Similia


Ilustração: Norman Rockwell


Muitas vezes a questão principal não é exatamente aquilo que se lê. Mas a afinidade espiritual que se estabelece com o texto lido.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Dificuldades da escrita correta


Hoje passei vistas ao PEQUENO MANUAL PRÁTICO DE EXPRESSÃO VERBAL E ESTILO – ORTOÉPIA, cujo autor é J. Hebal G. Lino e pude perceber plenamente a extensão das dificuldades que sobrevêm quando do ato de se redigir com correção.
A nossa língua definitivamente é de uma complexidade tão extrema, que dificilmente há quem a domine por completo. Problemas comuns, como os de ortografia e concordância, infernizam a vida da maioria das pessoas que tencione escrever corretamente qualquer texto.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

O obstinado ato de escrever

Muitos são os autores e raros os grandes escritores: Hugo, Tolstoi, Flaubert, Rosa e alguns outros. Contudo, mesmo entre os medíocres, os descompromissados e os gênios, algo existe que é fundamental a quem escreve: gostar de escrever.
Descrever através das palavras pensamentos, sensações, sentimentos, experiências, enfim, a vida e todas as suas extensões, é algo que gera a quem tem afinidade com a escrita, um prazer incomensurável. É uma arte.
Sou daqueles que escreve quase todos os dias e este ato tem sido uma constante em minha vida, ao menos desde a pré-adolescência. Portanto, não poderia de deixar de incentivar a que outros também o façam e creio que se instigássemos adequadamente às crianças, criando programas de incitação à leitura e escrita, que realmente cumprissem com seu papel de estimuladores, não só facilitaríamos o desenvolvimento intelectual das crianças, como, também, indiretamente, consolidaríamos o respeito pelo autor e pelas obras produzidas.
Em um país de boçais as estantes ficam repletas de objetos de decoração e vazias de livros. Não se pode esperar muito desse povo, ainda mais quando estamos convergindo de uma sociedade mecanicista para uma outra com base na informação e na sua aplicação criativa.
Há muitos anos atrás, quem não estudava, ia, por não ter formação, trabalhar na lavoura, em serviços pesados, no ambiente doméstico, ou outra atividade braçal em que a ausência de conhecimento não causasse repercussões negativas, comprometendo a produtividade.
Atualmente, já não se passa tanto o mesmo, principalmente com a agregação dos processos informáticos ao ambiente de trabalho: mesmo as máquinas mais pesadas, como por exemplo as escavadeiras de extração de minérios, gigantescas por sinal, são operadas e monitoradas com base em recursos computacionais. Não há mais espaço nessa indústria para pessoas sem entendimento.
Do campo nem se fala. Quase nada mais se produz que seja viavelmente econômico sem o suporte de vasta gama de conhecimentos agrícolas. E isto, tanto nas atividades de plantio, quanto na pecuária. A lavoura produz mais e com menor custo, quanto o gado engorda da mesma forma, tutelado por diretrizes que tem por base o maior conjunto de informações acessíveis a quem lida com o campo.
Não basta a Reforma Agrária, há de se promover concomitantemente a "formação agrária", viabilizando ao homem firmar-se no campo e dar continuidade à sua atividade livre das derrotas econômicas e do baixo desempenho.
A solução se fundamenta na escrita, pois é através dos conteúdos dos textos que se adquiri conhecimento. A palavra ilumina esclarecendo. Serve tanto a quem gera, quanto a quem absorve saber.
Sendo a escrita, fundamental, deveria ser tratada com mais relevância e cuidado por parte de educadores, instituições e órgãos ligados ao ensino.
Sem a escrita nos reduzimos a meros trogloditas pré-históricos. Estimulemos as nossas crianças antes que sejam tragadas por um sombrio túnel do tempo.

Copyleft©2007 S. Quimas. Brasil.





quinta-feira, 26 de abril de 2007

Salute!

Tenho sido um leitor assíduo desde quando aprendi a ler. Isto se deu em meus quatro anos de idade.
Fui iniciado nos mistérios das letras por minha mãe, que foi minha primeira professora e, por conseqüência, minha alfabetizadora.
Aos cinco freqüentei a mesa de Dona Dirce, professora particular que estendeu meus conhecimentos, dando-me lições de gramática, matemática e outras matérias que compunham o currículo escolar da primeira série do ensino fundamental, pois na época não permitiam o acesso de pessoa tão precoce na escola formal, havia a necessidade de se ter sete anos completos para ingressar.
Ao ingressar na escola, um colégio público, após licença especial, entrei aos seis anos de idade, já na segunda série. Para mim não houve problema maior, pois já vira parte da matéria com a minha ex-professora. Assim, prossegui até completar os estudos, se acaso realmente se completa algo em termos de estudo, já que até os dias presentes continuo um estudante de tudo o que me seja de interesse.
Por ser um leitor precoce e ávido por leitura, li muitos livros, chegando a devorar um volume diariamente. Quantos personagens, histórias, conhecimento, reflexões, desfilaram frente à minha visão! Privilégio que agradeço à vida por me ter proporcionado.
Percorri páginas admiráveis, como as escritas pelos grandes autores: Dante, Shakespeare, Goethe, Hugo, Tolstoi, Dostoievski, Zola, Assis, Euclides, e tantos outros, que necessitaria de bobinas e mais bobinas de papel para grafar seus nomes.
Ser leitor é, antes de tudo, ser um apaixonado crônico e incurável pela mente alheia, pelo seu conhecimento, por suas emoções e sentimentos. É desejar unir-se, fundir-se à alma de outro. Padecer e superar com seus personagens, envolver-se em suas tramas, rir e chorar as vidas que emergem das letras. Enfim, é viver navegando no fluxo das palavras por eles grafadas.
A escrita é o fenômeno universal que define com maior precisão o limite entre o primitivo e o civilizado. Mais do que um amontoado de conjuntos arquitetônicos, uma civilização é aquela junção de seres que produzem conhecimento e preservam-no através da escrita.
Neste mundo multimídia em que vivemos, com todos os seus esplêndidos recursos, com sua grafia eletrônica, corremos o risco de termos a nossa memória destruída por um pico elétrico, ou pela falta de energia, coisa que não ocorre com a escrita em papel, que apesar de certo grau de vulnerabilidade, ainda é menos suscetível do que os meios eletrônicos, dependentes da energia elétrica para seu funcionamento.
Fico temeroso por todo o conhecimento que pode ser perdido caso não se possa mais contar com a eletricidade. O analógico ainda é menos propício a este tipo de situação do que o meio digital. Oxalá, não nos falte os meios para acessarmos o que viemos produzindo.
Não obstante nem tudo o que se escreve, nem todo o conhecimento entre tudo o que se publica, ou se acessa, de fato tem valor. Há muito lixo, sempre houve. Talvez, hoje, devido às facilidades tecnológicas, tenha havido um aumento extraordinário do volume de material esdrúxulo. Contudo, de certa forma, nunca se escreveu tão generalizadamente em toda a história humana. Vivemos o período barroco da escrita universal, com todas as suas idiossincrasias e paradoxos, onde o indivíduo ao recém descobrir a sua potencialidade, ainda mal coordenado e equilibrado, atreve-se a dar os primeiros passos no campo do conhecimento e da escrita.
Por aí vemos textos muito mal escritos, repletos de erros, superficiais, frívolos, enfim, puro lixo, mas têm eles a sua importância, pois ensaiam um futuro de seres criadores.
Muitos lhes criticam, simplesmente porque não entendem que tal período é passageiro e, até certo ponto, é bom que tenha vindo tal período, pois desmistifica quem escreve e sinaliza que “todos” podem gerar conhecimento, “todos”podem escrever e não somente uma classe de semi-deuses alçados a gênios literários. Os mitos estão ruindo por terra, seria bom nos acostumarmos o quanto antes.
O conhecimento é intrínseco. As coisas só nos auxiliam a revelá-lo à nossa consciência.
Um brinde, moderado, mas um brinde à nova safra de leitores e autores!

S. Quimas

terça-feira, 24 de abril de 2007

Alegoria Náutica



Desde criança tenho uma profunda admiração pelo mar. Aliás, por mim viveria o restante de minha vida ouvindo o marulho das águas em alguma praia do Nordeste Brasileiro. O mar me fascina a tal ponto que uma das minhas aspirações mais forte — e talvez mais louca — é permanecer dentro de uma tempestade, a beira de um abismo e ver o bater das ondas encapeladas nos rochedos abaixo de mim.
Contudo, não é exatamente sobre o mar em si que desejo escrever, mas sobre as embarcações que lhe navegam, de um navio, uma alegoria náutica, não um barco qualquer.
Este transatlântico de dimensões colossais se chama Mundo e ele navega em um mar muito especial denominado Espaço Sideral. Sua velocidade de cruzeiro é de muitos milhares de nós. Ele possui uma cabine de comando e acomodações de primeira classe, classe turística e para a tripulação. Possui também porões, que dizem ser infestados por ratos. Há outros setores neste navio, como cozinhas, lojas, salões, etc.
No comando, o capitão e os navegadores controlam o curso da embarcação e a administração do navio. São eles que determinam a rota, fazendo com que o leme dirija o navio para o objetivo que determinam. Em toda a história desta embarcação foram criadas oportunidades para que o Mundo chegasse a portos mais auspiciosos, porém há muita divergência entre os tripulantes que dominam a cabine de comando. As suas contendas são tão ferozes que chegam a bater-se entre si e muitas vezes a se matarem. Acabam, com isto, comprometendo o bom curso da viagem e atingindo a todos os passageiros da nave, transformando-a em um barco de guerra que se autodestrói.
Não toleram amotinados, que são rapidamente contidos pelos marinheiros responsáveis pela segurança do navio. Estes marinheiros deveriam preservar a integridade dos embarcados, mas acabam sendo destacados para reprimir os que fazem voz contrária às decisões do comando.
Os oficiais de bordo não ligam se agem em prejuízo daqueles que com eles navegam e nem se as suas decisões precipitam o declínio do navio. Suas decisões são para eles sagradas e não se admite controvérsias. Afinal, pensam, não são eles superiores a todos, então por que ouvir a outras vozes? Por que dar crédito a quem não tem o poder de comando? São irredutíveis.
Geralmente, aqueles que são promovidos dentro da tripulação e alçam ao comando, mas que discordam dos mais graduados, são também eliminados, ou recebem sanções que lhes dificultam as ações e lhes impedem o progresso.
Os oficiais superiores vivem confabulando e muitas vezes dão aparência que vão decidir em favor do restante dos embarcados, mas no fundo só decidem em prol de si mesmos e espargem migalhas em benefício destes últimos.
Em conivência com as decisões tomadas pelo comando e regalados em seus banquetes com o que de melhor pode haver, estão os passageiros da primeira classe. Estes se submetem solicitamente ao jugo do comando e partilham com ele suas decisões, se influenciado mutuamente. São eles os perpetuadores e mantenedores das regras que dirigem as ações do comando.
Esta classe não freqüenta o convés das demais e muitas vezes ignoram os clamores e burburinho que vêm de baixo, tendo-os como próprios de gente sem formação e insensata.
Adoram desfilar ostentando suas riquezas e esnobando a quem não pertença a seu seleto grupo. Consomem e desperdiçam muito, pois não relevam a finitude dos recursos de bordo, já que a sua posição e poder financeiro lhes entorpecem as mentes. São amnésicos em relação aos problemas alheios. Mais certamente, egoístas.
Também são dados a colecionar títulos honoríficos e dão importância exacerbada aos nomes de família e posses. Só toleram das outras classes aqueles que lhes servem. Uma questão que no momento não tem melhor solução, mas que deverá ser sublimada pelos avanços da informática e da robótica.
A classe turística é a menos confortável, pois as cabines são estreitas e o serviço menos cuidado devido à superlotação. Os passageiros desta classe operam como formigas e raramente desfrutam de bom lazer. Suas vestes se assemelham a uniformes, pois somente compram roupas produzidas em massa. Exclusividade é um verbete desconhecido destes passageiros.
São mais vulneráveis, já que sua alimentação nem sempre é a mais adequada, portanto adoecem com mais facilidade. No convés da classe turística, poucas são as enfermarias e o atendimento torna-se precário. Os médicos, além de insuficientes, ganham uma fração infinitesimal do que ganham aqueles que atendem no convés superior. Assim, devido à remuneração inferior e à quantidade temerária de pacientes, trabalham aborrecidos e têm um tempo exíguo para o atendimento.
O trabalho dos passageiros da classe turística é que dá sustentação à primeira classe e ao seu hedonismo. Apesar de embarcados no mesmo navio, não lhes é dado acesso ao outro convés senão para que dêem suporte aos passageiros superiores.
A parte mais obscura do navio são seus porões. Neles viajam todo o tipo de clandestino. São infestados por ratos e outras criaturas que comprometem o ambiente, tornando-o extremamente insalubre e impróprio.
Os clandestinos são conhecidos por todos, mas vilmente ignorados. Assim, reina nos porões a violência, a doença e a fome. Eles são os parias da embarcação e vivem submetidos à sombra constante, sem qualquer acesso às luzes dos conveses acima.
São numerosos e deles se comenta muito, mas nenhuma providência se toma em relação a restaurar-lhes a dignidade.
Numa descrição sucinta, assim é o nosso navio Mundo. Uma nave cheia de desigualdades e extremos. Entretanto, descuidando-se de sua navegação, infringindo-lhe sucessivas avarias e tratando com descaso os seus passageiros, vê-lo-emos ir a pique. E, neste dia, junto com ele, o comando, a primeira classe, a turística, os clandestinos e todas as outras criaturas do porão. Nada e ninguém se salvarão.

S. Quimas 


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