quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Quem sabe agora os meus escritos

Nu Masculino - Autor desconhecido

Quem sabe agora os meus escritos
Deixassem as sombras
E se revelassem à luz?
Quem sabe os versos descabidos,
Os impensados, a rimas vis,
Se transformassem em flor?
Simplesmente em flor.
Quem sabe?
Quem sabe todo o sentimento,
Tudo aquilo dito e do muito falado
Teria tão somente agora tal significado?
Toda a poesia tarda em ser a si.
A maior delas é aquela que se repete,
A que sempre se lê e é ainda outra,
Ainda que a se leia incontáveis vezes,
Pois seu prazer, ou a sua tortura,
Simplesmente nos leva a alma,
Rouba-nos o sossego,
Simplesmente nos toma.
Poesia é mundo de cruzes,
Do desejo insatisfeito,
Ou das lembranças perdidas,
Ou das alegrias, dos amores.
É-nos ferida aberta,
Doença sem cura,
Total perdição,
Miragem, razão.
Poesia é a completa imersão
No mais profundo de nós,
Tênues certezas de coisa nenhuma,
Droga que nos alucina,
Sem droga nenhuma ser,
Mas que nos furta por completo.
Ah! Poesia, poesia...
Maravilha essa construída de palavras apenas.
Toda imensidão,
Tingida de estrelas negras
Sobre o infinito branco do papel.

S. Quimas

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