quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Minha vida é um delírio




Minha vida é um delírio,
Encarnação do mundo inteiro,
Absurdo de tão imensa.
Bebo das águas de todas as eras,
Flutuo no espaço infinito
De todas as minhas lembranças
E daquelas outras todas alheias às minhas.
Vivo a minha vida
E a de todos os outros homens
E a da natureza por completo.
Tudo em mim é transcendental,
Espetáculo contínuo
Que extrapola o tempo,
Rompe limite de existência.
Numa das mãos trago as chagas do profeta,
Na outra um ramo de flores.
A vida me traz rugas na face
E cicatrizes na alma.
Sou o ancião do mundo
E aquele que agora renasce à luz.
Sou dentre todos o real bandido,
Pois da imortalidade o cálice furtei
E o sorvo às goladas
E dele derramo... Poesia.
Sou poeta...
Pai de canções,
Filho de rimas incertas,
Mãe de partos muitas vezes dolorosos.
Tudo em mim é impreciso,
Instável como o tempo,
Fugaz como as nuvens,
Rodopiante como o vento,
Giro de pedras num caleidoscópio.
De mim se espera que eu seja
Algo que não se define.
Assim é: mutação por completo,
Rio que escoa em jamais repetidas águas,
Amanhecer e céu estrelado.
Tudo sou.
E, por sê-lo completamente,
Também sou o nada,
O silêncio, a ausência,
O próprio não ser.
Em mim tudo se cria
E tudo se desconstrói.
Sou um deus e o mais vil mortal.
Sou o que sou
E também não.
Sou poeta.

S. Quimas

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