terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Abandono o tempo

Franz Roubaud - Cossaccos num Rio da Montanha


Abandono o tempo
E todas as medidas,
Eis que mergulho enfim na eternidade.
Tudo o que pensamos são razões,
Eu mesmo renego a angústia
De viver cercado de soluções.
A vida é sempre pergunta,
De muitas respostas poucas,
Há de se abandonar tal ilusão,
Porém há de se buscar
Sempre respostas.
Estas que nos levam a outras tantas...
Questões.
A vida é simples:
Apenas um isso aí!
Viver.
Não há imensa filosofia
Que não seja apenas viver.
A única e imensa certeza
E aquela que nos toma e transtorna. A morte.
A vida é sorte
E a morte circunstância.
Quando caminhamos
Há os tropeços
E a absoluta incerteza de tudo,
Mas de tudo mesmo,
Pois que tudo
É imensamente imponderável.
Resta a criança em nós.
Ela não pensa no tempo.
Suas preocupações são quimeras.
Não questiona o alimento
Que deveras a alimenta.
A criança é o absoluto agora.
Constrói-se pela presença
E não pela imponderabilidade.
Lição a ser aprendida.
Dizemos de consciência
E, adultos, pouco sabemos disso.
Contudo, caminhemos .
Melhor os pés que andam
Do que a mente
Que não enxerga mais caminho,
Que se satisfez
Com a solução de seus limites
E não busca mais nada.
A quem se rende
Não há mais estrada,
Pois perdeu seu caminho,
Si mesmo,
O infinito.
Desconhece-se.
Tudo que é normalmente aceito
Não nos identifica.
Prefiro a brisa
E mesmo o vento imenso.
Melhor tudo que me transtorna
Do que aquilo que torne
Simplesmente conformado.
Meu maior modelo são as nuvens.
Estas caleidoscópios celestes,
Sempre em transformação,
Únicas a todos os momentos.
Permaneço silente e contemplante.
Caminho onde
Flores brotam no asfalto.

S. Quimas

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