quinta-feira, 19 de março de 2015

Sou apenas poema

Édipo e a Esfinge - Jean-Auguste Dominique Ingres


Sou apenas poema,
Esgares de renúncia e atrofia
Perante as ausências tantas
Das exigências que não cumpri.
Sou a criatura mais sórdida ainda viva,
Pois que minha boca não se cala de poesia
E todo meu sentimento é somente derrota.
Sou rasgo de relâmpago sem nuvem
Numa noite temerária,
Quando tudo que se espera é a morte,
Mas ainda assim deixo um perfume de esperança
Na prece balbuciada.
Não há fé em mim,
Só o desespero de toda a perda que me consome.
Sou atroz, negligente, um desconformado,
Um demônio de versos enganadores,
De flores que nascem e se reduzem ao pó.
Sou isso e aquilo e além.
Sou poeta. Bela vilania,
Diabo encarnado em poesia.

S. Quimas

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