sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Construindo o Edifício da Paz - 2(a)

O Juízo Final - Afresco de Michelangelo na Capela Sistina
O Juízo Final - Afresco de Michelangelo na Capela Sistina, Vaticano



Outros dois elementos também tomam parte na construção do Edifício da Paz: planejamento e organização.



Planejamento e Organização

1. O indivíduo

Escasso é o nosso tempo livre nos dias atuais. Estes dias em que tudo se move a jato, em que satélites ao redor da Terra nos enviam informações, que só encontram barreiras para se tornarem instantâneas, na velocidade da luz. Que dias excelentes e grandiosos seriam se, unidos, todos nos abraçássemos globalmente, dando uso ético a tão brilhante tecnologia.

Contudo, o mesmo “chip” que possibilita-nos o relacionamento através dos computadores e redes de informação, é aquele que direciona mísseis que destroem populações e mutilam crianças.

O homem não é por natureza uma criatura infernal, mas tem a potência para realizar o Inferno dentro de si mesmo e exteriorizá-lo, aviltando o mundo que lhe recebeu por lar. Falta-lhe a percepção, o entendimento do conceito de Planeta-Lar e Mundo-Família.

Mas como pode este mesmo homem ter lucidez, se é inundado com uma torrente mecanismos a fim de seduzi-lo ao distanciamento dos conceitos essenciais à manutenção de uma sociedade coesa, onde preponderam a justiça e o bom relacionamento, que são: lar e família.

Estes dois citados elementos são matrizes na constituição de todo o sistema universal e alicerçam tanto sociedades animais e humanas, quanto galáxias e átomos. Não está aí uma das raízes da miséria humana? O ato de aviltar um sistema que por si só o precedeu em bilhões de anos e que, comprovadamente é eficiente? Ainda mais que ele, o homem, se originou desta matriz.

Hoje se chama de vírus o elemento que procura destruir ou corromper a organização do sistema. Seremos?

Quando cito sistema, não estou querendo referendar este que nos foi imposto, fruto das alucinações totalitaristas de uns poucos, movidos pela ganância e egoísmo, que não leva em conta, a não ser quando isto lhe faça gerar ganhos, a visão holística do Ser, esteja este manifestado na forma que estiver.

Contudo, podemos reverte o quadro sinistro que teima em assombrar os nossos dias. Para isto, temos que “planejar”.

Foi citada em texto anterior, a necessidade deste planejamento, da meditação sobre a causa dos desequilíbrios, a sua identificação e de ações concretas voltadas ao seu reparo.

Tudo isto é uma tremenda utopia, pois sequer temos algum tempo para descansar, quanto mais para nos ocuparmos com abstrações. A única coisa possível no dia-a-dia é nos estiramos num sofá após o banho, tendo largado do trabalho, e consumirmos a televisão até que nos venha o sono. As nossas cabeças sequer são capazes da mínima reflexão e mal e parcamente, balançamos a cabeça, concordando ou reprovando, quando o apresentador do telejornal desfila o leque de notícias da noite.

Assim, querem que creiamos, porém, de fato, não é uma situação irreversível.

Não defendo a tese da alienação, de que basta-nos decorar alguns versos religiosos, nos desocupando do que acontece ao nosso redor, para que nos iluminemos. A minha tese é que importa isto sim, o modo como lidamos com tudo isso e qual é o real centro de nossa existência.

Existe um visível vampirismo por parte dos meios de comunicação — abrindo algumas exceções particulares —, que por não produzirem commodities, procuram aliciar-nos através da subjugação da capacidade de reação instantânea. Para ser mais claro, cito um exemplo: se acaso nos derem um alimento podre para comermos, automaticamente iremos expulsa-lo, cuspindo ou vomitando. A persistência no consumo de alimento estragado pode levar à morte, coisa que procuramos evitar. Já com a mídia, por exemplo, a reação pode ser tardia, ou mesmo nula, tendo a grande possibilidade de assimilação, sem qualquer reflexão. Morremos, assim, espiritualmente, sem nos apercebermos que fomos envenenados.

Então, qual o melhor caminho a ser adotado?

Primeiramente, devemos planejar nossos dias, enumerando as suas prioridades, entre elas, períodos de tempo para reflexão, para tomarmos consciência de nossas atividades. Muitos presidentes e diretores de empresas caíram ou foram presos, pois constavam suas assinaturas em documentos que autorizavam ações criminosas ou não éticas. Muitos deles sequer sabiam realmente o conteúdo do que assinavam, mas como fazia parte de sua rotina, assinar documentos, faziam-no como um artista dá seu autógrafo a um fã. Foram logrados? Sim. Mereciam a condenação imposta? Certamente, mas não pelo crime involuntariamente cometido, porém por um mais terrível, o de se terem permitido transformar-se em zumbis de terno e gravata, indiferentes a si mesmos e a realidade que os cercava.

Com um pouco de planejamento, podemos realizar de forma organizada muito durante um dia, tendo tempo para desempenharmos adeqüadamente as nossas atividades.

As pinturas de Michelangelo na Capela Cistina entre o teto e o painel do Juízo Final, uma das maiores obras primas do gênio artístico humano, levaram mais de três anos para serem realizadas. Contudo, o artista trabalhou sua obra cada dia.

Devemos estar conscientes de cada dia, cada hora, minuto e segundo de nossas vidas e devemos desfrutá-los como a um vinho raro, com a percepção do quanto efêmero é o tempo, para desperdiçá-lo com a inconsciência.

Entretanto, com planejamento e organização podemos escapar do círculo vicioso que nos furta a vida consciente.

“Muitos apenas existem, mas somente uns poucos vivem”. Disse uma vez Oscar Wilde, escritor e poeta inglês da Era Vitoriana.

Um software existe, porém não é vida. O corpo humano é um mecanismo vivo, mas a vida é uma qualidade extrínseca ao corpo. A vida o faz viver e a consciência faz com que ele manifeste. Quanto mais elevado o nível de consciência, mais elevado o nível da manifestação.

Que a Paz esteja contigo.



S. Quimas

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