Janeiro já termina
E eu abraço o vento
E me faço irmão de todas as tormentas.
Sou os raios que chispam
No manto cinza em convulsão.
Sou a água que lava a terra
E o cheiro bom que dela nasce,
Inundando todo o ar.
Sou o canto grave dos trovões
E a vibração que faz tremer as janelas.
O ruído das gotas salpicando os telhados
E sou também elas a escorrer pelas calhas,
Morrendo no chão das calçadas.
Sou o dilúvio que assola
E a rega que faz germinar os campos.
Sou o que traz o verde da vida nascente
E o preto do luto pelos que partem nas tragédias.
Sou a glória da Criação
E a ira do Criador.
Sou a devastação que aniquila
E a singela gota que passeia
Pela pétala umedecida de uma flor.
Sou completamente tudo...
Todos os meus imprecisos delírios,
Meus todos e grandiosos devaneios.
Sou o êxtase do mundo
E o apagar-se em sua morte.
Sou a areia, que arredia se levanta nos desertos,
A chuva que esbate o solo,
O vento que sussurra na brisa
E o que grita tremendo nas tempestades.
Minha alma está assim de tudo repleta,
Pois a sorte me fadou a ser poeta.
S. Quimas