quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Eu fui embora porque não pertencia a este tempo

Salute - Desenho de S. Quimas



Eu fui embora porque não pertencia a este tempo,
Não pertencia a este mundo, era cria do absurdo,
Um qualquer que consumia a vida em grandes goladas,
Um atroz que ruminava a própria existência
E que a cada hora, a cada instante era outro
E jamais o mesmo.
Ninguém me via, pois era miragem,
Tão diáfano quanto o caleidoscópio de nuvens
Que insistiam em borrar o céu de cinza e branco.

Eu fui embora, não por nojo da humanidade,
Não porque o mundo estivesse acabando,
Eu fui embora, simplesmente, porque fui.
Fui... E muitos me condenaram,
Muitos dos perfeitos disseram que não deveria,
Que fui covarde, que minha vilania era imensa,
Mas sem dar ouvido as suas vozes, fui...

Que mal há em ir, que coisa é essa de destino?
Eu sempre tentei (nem sempre, admito) ser correto.
Tentei me adaptar, me enquadrar.
Por covardia, por acomodação?
Não. Simplesmente para que ninguém duvidasse
Que eu poderia, que eu pertencia a este mundo.
Mas não pertenço. Como poderia?

Um mundo sujo,
Um mundo desigual,
Um mundo torpe.

O mundo ao qual eu pertenço
Quando alguém sofre, todos estendem as mãos,
Pois seria inadmissível ser feliz enquanto outro não seja.
O meu mundo é paz e não mísseis cruzando os ares.
Nele jamais arma alguma foi construída,
Nele jamais alguém odiou o outro ou a Natureza.

Enfim, meu mundo não é esse.
Meu mundo é arte e poesia,
É amor e buscar compreender,
É retórica, mas é coração.
Meu mundo é tudo.
E mesmo no meu mundo
Cabe este o qual eu existi,
Mas, certamente, não vivi.

S. Quimas



Luz e paz.

S. Quimas

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