quarta-feira, 25 de março de 2015

Estou a fim hoje de beber-te

Modesto Trigo - Nu


À Meg Imbelissiere

Estou a fim hoje de beber-te,
Pois quero me embriagar
E tu me embriagas
Mais que o absinto.
Hoje não quero sanidade
Em minha vida, não quero ser o mesmo,
O contumaz de mim.
Quero romper-me
E quero me perder completamente.
Que eu me avilte, que seja assim,
Se assim for isso,
Porém, que ébrio, adormeça
Estirado na sarjeta dos braços teus.

S. Quimas

sábado, 21 de março de 2015

Ao Dia da Poesia

Olga Suvorova - Golden Fin


A condição do poeta é viver todas as vidas e a sua mesma. Arder nas chamas das paixões e serenar em rincões que jamais pousou. É abster-se de si e se entregar à toda a vida. É colecioná-las e transbordá-las de si mesmo. E fazer pacto com Deus e não desprezar os demônios. Ser poeta é abarcar e abraçar a infinitude de todas as coisas e deixar-se ir através de brisas e cruzar tormentas. É traçar linhas e encantar. É ser odiado como ser e amado como artista. É fazer caber em si a totalidade, ainda que lhe estrangule o fôlego. Ser poeta não é fácil, é viver em si completamente tudo o que existe e sonhar o impossível... além.

S. Quimas

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quinta-feira, 19 de março de 2015

Sou apenas poema

Édipo e a Esfinge - Jean-Auguste Dominique Ingres


Sou apenas poema,
Esgares de renúncia e atrofia
Perante as ausências tantas
Das exigências que não cumpri.
Sou a criatura mais sórdida ainda viva,
Pois que minha boca não se cala de poesia
E todo meu sentimento é somente derrota.
Sou rasgo de relâmpago sem nuvem
Numa noite temerária,
Quando tudo que se espera é a morte,
Mas ainda assim deixo um perfume de esperança
Na prece balbuciada.
Não há fé em mim,
Só o desespero de toda a perda que me consome.
Sou atroz, negligente, um desconformado,
Um demônio de versos enganadores,
De flores que nascem e se reduzem ao pó.
Sou isso e aquilo e além.
Sou poeta. Bela vilania,
Diabo encarnado em poesia.

S. Quimas

quinta-feira, 12 de março de 2015

Morri...



Morri...
Assim, simplesmente.
Não por covardia,
Mas para abster-me de meus sonhos.
Eram tão imensos.
Contudo, não cabiam nessa vida passada.
Na vida, se cabe,
São as infinitas realidades,
Pior que drogas,
Infinda corrupção de nós mesmos,
Um vender-se ao sortilégio,
Um vaticínio de angústias intermináveis.
Morri, e morreria tantas vezes
Quanto fossem elas necessárias.
Na morte não há silêncio,
Só há a pulsação de um novo útero.
Não há como evitar o infinito,
O eterno reconstruir-se.
Há que se morrer, sempre,
A cada instante, pois esse o Universo.
Depois, incógnita...
Morri...
E renasço a cada verso,
Bem assim, renasço.
Espero que para sempre poesia.

S. Quimas