terça-feira, 24 de maio de 2011

Novas esperanças

Para ele, o ano que passou fora extremamente difícil. Acumulara dívidas, rompera com um relacionamento que teimara em arrastar por anos, perdera amigos devido a acidentes e doenças, enfim, cruzara aqueles dias tortuosos vitimado por todo tipo de vicissitudes.

Passada a ressaca do réveillon, retomou suas atividades e esperançoso por uma mudança em seu destino, levantou-se de sua cama e abrindo um dos sabonetes da caixa que ganhara de presente no Natal, único presente recebido, banhou-se demoradamente. Vestiu sua melhor roupa e dirigiu-se à padaria em frente ao edifício que morava para degustar um bem servido café-da-manhã.
Pediu café-com-leite, croissant, bolo, tudo o que tinha de direito. Comeu tudo pausadamente, regalando-se com um sorriso estampado no rosto. Antes de terminar o pãozinho, ouve um barulho seco em sua cabeça e sente uma dor lancinante. Cospe para fora da boca um naco de pão e com ele, um pedaço de molar e um parafuso. Então, desce-lhe uma lágrima pela face, a primeira do ano.

Erótico Country

Sempre foi um moleque levado, desses que nem o capeta segura. Rodava pela fazenda só realizando trapalhadas. Espalhava as vacas, corria com os cavalos e estes acabavam por atropelar a lavoura e destruir canteiros e mais canteiros de plantação. Tomou muita surra, mas nenhuma emenda.
Um dia descobriu o sexo no galinheiro. Uma a uma das galinhas levou para o coito e como era de se esperar, para a morte. Nascera bem dotado e não havia cloaca que lhe resistisse à penetração.

Não tenho saudade de tempo algum

Flores de cerejeira


Não tenho saudade de tempo algum.
Nem do passado, da infância vivida,
ou do agora que turva a lembrança,
que, vil, foge ardilosa e combalida,
não deixando rastros da triste criança,
que nunca coube em mundo nenhum.

 Quisera sentir em meu peito a agonia
 de uma ausência por tola que fosse,
recordar-me que houvesse assim um dia
ter provado de um ansiado beijo o doce.

Mas nesse mundo vão e controverso,
restou-me somente o infeliz mal  fado
de compor o não vivido em todo o verso

Luíza

Arte: Reclamation - Brad Kunkle


Eu já não tenho medo, Luiza!
Já não me cubro de ouros
e de pieguices, que só os tempos,
e só as auroras de muitos dias vividos,
teimam em testemunhar.

Já não sou teu poeta preferido,
se algum dia já o fui.
Sou esta pálida lembrança
entre o gozo pressentido
e o o orgasmo não realizado,
nestes dias teus de agora.

Veja bem, Luiza,
que não se acabem estas horas,
que tua existência é apenas
uma lembrança,
pois que posso te olvidar.
E, entre o sonho e a ternura
que por ti alimento,
possa não restar senão
esta poesia infame,
que não é senão
a saudade da pureza que sinto
de todo o sentimento
que nutri
na vã esperança de ter encontrado, enfim,
o derradeiro amor,
que jamais nutri, ressabiado,
por ti e por todo alguém,
por tua e lembrança alguma.

Luiza, ainda tenho
teu cheiro em meu nariz.
Melhor declaração de amor?!